domingo, 9 de dezembro de 2012

9 de dezembro de 2012

Sentamo-nos à beira rio, no exato sítio em que o passeio termina e se inicia a descida até à água. Observo as gaivotas que nos sobrevoam e inspiro com vontade. Há pessoas a passar, pessoas que param nas nossas costas para fotografar os descobridores portugueses, para levarem no regresso um pedaço do que é nosso. Sorrio com vontade. Inspiro cheia de vontade. Abro os braços ao sol e depois abraço os meus joelhos.
Ouço-te perguntar 
- É só isto que queres para a tua vida?
Utilizas aquele tom que me faz duvidar da seriedade da questão, com um meio sorriso, um ar de quem quer saber mais.
Olho-te nos olhos, procurando um sinal, um restício de algo que me diga o objetivo da pergunta. Pode haver uma crítica, um julgamento prévio sobre o que tenho e sobre o que faço. Baixo o olhar, puxo mais as mangas do casaco preto de malha para que me cubram as mãos e olho o rio lá em baixo, para além dos ténis pretos de sola branca que trago do passado. Há barcos à vela a passar. Perto de uma dezena, com miúdos em formação.
O que é que tenho na minha vida? O que faço com o que tenho?
- Não, não é só isto que quero para a minha vida. - respondo - Quero para a minha vida tudo o que tenho hoje e tudo o que procuro para o amanhã - digo, gesticulando.
- O que tenho hoje - continuo - chega-me por hoje porque sei que fiz por o merecer. Cheguei aqui com os meus passos. Quis a vida toda num dia, quis que a vida fosse só o que tinha. Isso chegou-me?
- Não sei - dizes - diz-me tu.
- Não, não me chegou. Tapou-me os olhos e toldou-me os movimentos e os sonhos, mas não me chegou. O que tenho hoje eu já conheço e saboreio-o com gosto. Tenho liberdade para quase tudo e sinto-me completa na maior parte dos momentos do dia. Sou eu que escolho o que tenho, o que vivo - digo, cheia de convicção.
- Nunca és tu que escolhes tudo - dizes, rindo, com um gesto de desprezo perante a minha verdade.
- Não, não sou. Mas sou eu que escolho como vivo com o que me é dado e é aí que reside a minha liberdade. - afirmo - Sou eu que todos os dias e a cada momento decido lidar com tudo com vontade de aceitar de bom grado mas sem me contentar, sou eu que enfrento cada dia com vontade de o fazer melhor, de o fazer valer a pena.
- Como assim?
- No final de cada dia tenho de ter um balanço positivo. Se assim for então sei que o aproveitei, que fui capaz de o valorizar, de o fazer valer a pena. 
- Sim... - dizes, mostrando que estás a acompanhar o meu raciocínio.
- Então é isso: se o dia de hoje valer a pena sei que o que fiz com ele me chegou por hoje. Não pela vida toda, mas por hoje. 
- E pela vida? - questionas. 
- Pela vida tenho de ter um somatório de dias bons, de dias em que soube dar a volta, valorizar e valorizar-me. E encho a vida de pessoas boas, de sítios bons, ao mesmo tempo que eu própria me encho deles. Isso é o que quero para a vida. Se o conseguir hoje e amanhã então sei que estou mais perto do que quero para a minha vida. 
Não respondes. Olhas o rio mais ao fundo, no sítio onde se une ao mar e sorris. Olhas-me nos olhos e abanas ligeiramente a cabeça, dando-me um sinal de que estás assimilar o que te digo, as minhas verdades, e de que desejas profundamente que eu tenha razão porque isso significa que tu também estás mais perto de conseguir o que queres para a tua vida.

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