terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

26 de fevereiro de 2013

(banda sonora para a leitura)

Fechas os olhos enquanto sentes o sol a passar por entre os ramos das árvores e a chegar até ti, aquecendo-te por fora. Inspiras e expiras com algo mais do que ar a querer sair de ti, a querer sair acima das vias respiratórias. Inspiras e expiras com um nó maior a formar-se na garganta e uma vontade grande de ser mais, de lutar por mais, de pedir mais. Inspiras e expiras segurando em ti todo o resto para além do ar. Inspiras e expiras. Olhos fechados. Sol. Inspiras e expiras e deixas-te levar pela banda sonora que trazes aí dentro. Os teus lábios mexem-se suavemente, murmurando todas as palavras que tão rapidamente se colaram a ti. Há um nó na garganta e há um nó maior a apertar-se devagarinho no peito, no órgão que te põe o sangue a correr mais depressa pelas veias quando murmuras para dentro as palavras que não te permites dizer em voz alta. 
Há um nó na garganta, no órgão que trazes ao peito e no outro, lá mais em cima. Lá em cima não há só um. Lá em cima tens um órgão que só é órgão devido ao emaranhado de nós que ali se acumularam. Todo o volume que tem são nós. Nós que não se desfazem. Nós que se embrulham e que te prendem neles. Prendem-te mais à medida que o nó que trazes ao peito se aperta mais, à medida que o sangue te corre cada vez mais devagar pelas veias e o o nó na garganta cresce até formar um novelo que te cala a voz e te bloqueia o ar. Inspiras e expiras mas a dada altura o que fazes é apenas abrir e fechar a boca. Abres e fechas a boca sem que o ar entre ou saia. E nos teus olhos, ainda com a banda sonora a tocar cá dentro, há um brilho maior e molhado, um brilho maior e molhado que ameaça espalhar-se por todo o rosto, escorregando para o resto de ti.
 

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