segunda-feira, 18 de março de 2013

18 de março de 2013

(banda sonora)

De cada vez que os teus pés pisam o chão calcas bem fundo mais uma questão. Uma atrás da outra.
Questão, questão.
Questão, questão.
Inspiras e expiras de abdominal contraído - e o órgão que trazes ao peito apertado.
Corres. Corres para longe ou corres em redor. Passada atrás de passada.
Questão, questão.
Questão, questão.
Calcas com força o chão e corres para longe antes que te possam apanhar.
Questão, questão.
Questão, questão.
Inspiras e expiras e perguntas em silêncio ao orgão no topo de ti quando poderás parar.
Questão, questão.
Cada um dos teus passos continua a depositá-las mais abaixo, mais fundo, esperando enterrá-las bem - longe de onde estarás na próxima passada.
Abrandas. Mentalmente, vejo-te abrandar. Dentro das calças pretas que se te colam à pele vejo as tuas pernas, de repente tão esguias, a abrandarem. Os teus joelhos continuam a fletirem-se, um após o outro, mas demoradamente, como se por momentos pairasses apenas, por segundos infinitos em que um dos teus pés já se levantou mas o outro ainda não tocou o chão. Moves-te como que em câmara lenta. Um joelho. Um pé. Outro joelho. Outro pé.
Questão.
Questão.
Questão.
Questão.
Observo-te em silêncio nessa corrida de compasso lento, demorado. Observo os teus olhos a molharem-te todo o rosto e o punho da camisola a enxugá-lo depressa - para que eu não veja, para que tu própria não o vejas. Enxugas com pressa e com algo mais. É o brilhozinho frio que acompanha cada passada que dás com força, assentando no chão, com todo o teu peso, cada uma das questões que trazes em ti.
E continuas.
Questão, questão.
Questão, questão.
Um pé atrás do outro, passada após passada, calcas bem fundo no chão tudo de que te queres livrar.
Paras. De repente paras. Apoias as mãos nos joelhos, inspirando e expirando apressadamente, com o órgão que trazes ao peito a bater descompassadamente. Inspiras e expiras a custo. Respiras alívio. E, de pernas bem esticadas, levas também ao chão as palmas das tuas mãos, esperando que ao esfregá-las no chão ajudes a enterrar mais fundo tudo o que a custo calcaste já com os pés.

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