quinta-feira, 28 de março de 2013

28 de março de 2013

Estava a entrar em sobreaquecimento - e tu sabes.
As pás não paravam de girar cá dentro, tentando arrefecer os circuitos. A informação passava mais devagar, aos soluços. E o barulho das pás - sempre a girarem, a girarem - não parava por um segundo. Um ruído constante que me entorpecia o pensamento.
Estava em sobreaquecimento e não conseguia travá-lo. Queria interrompê-lo. Queria desligar-me da corrente, cessar o ruído no topo de mim - e em todo o lado.
A informação a circular, o ruído, a temperatura. A respiração interrompida, presa na garganta.
As pás a girarem, o ruído. As pás a girarem, o ruído. As pás a girarem. O ruído.
Encosto-me à parede. A boca a abrir e a fechar. A mão no peito. Os olhos muito abertos e brilhantes - brilhantes e quase molhados. Olho-te com a boca muito aberta e a mão a apertar-me o peito como se, se apertasse mais fundo, pudesse arrancar todos os circuitos e assim cessar o sobreaquecimento.
Olhas-me de olhos brilhantes. Olhas-me com tudo o que trazes aí. Olhas-me nos olhos. Olhas o brilho dos meus olhos, a boca muito aberta, a mão que me aperta o peito, as pernas que começam a ceder. Aproximas-te a medo. Aproximas-te de brilho nos olhos e boca a abrir e a fechar cheia de palavras que não deixas sair. Aproximas-te e levantas o braço na minha direção. A mão na minha direção. Esticas mais um bocadinho, tocando-me quase. A tua mão a centímetros de mim, a centímetros de tudo o que querias sossegar. E depois, lentamente, com os olhos fixos nos meus e a boca ainda a abrir e fechar, esticas-te e desligas-me da corrente.
Falta-me o ar. Arrepanho a camisola e encosto-me mais à parede. Todo o corpo encostado à parede. Falta-me o ar. Falta-me o ar e a força nas pernas. Olho-te de olhos muito abertos e sem ar. Olho-te de olhos muito abertos e com linhas finas a escorregarem, a libertarem-se finalmente. Escorrego. Escorrego devagarinho em direção ao chão. Escorrego devagarinho em direção ao frio do chão para me deitar, para deixar que a energia abandone cada um dos circuitos, para esperar que as pás cessem todo o seu movimento, para esperar que o ruído sossegue no topo de mim - e em todos os outros lugares.
Deixo-me ficar. Deixo-me ficar a sentir as linhas a traçarem-se no meu rosto - finas, fininhas - e a respiração - primeiro rápida - a recuperar o seu ritmo, a sua calma, à medida que o sangue me volta a circular pelas veias no seu ritmo regular. Deixo-me ficar a ver-te, ainda sem conseguir controlar os movimentos do meu corpo. Abro e fecho a boca para te falar mas tudo o que trago cá dentro é silêncio.

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