quarta-feira, 1 de maio de 2013

28 de abril de 2013

A sensação é sempre a mesma: em qualquer lugar a que vás tudo te parece bem, tudo te parece melhor. É o ar das pessoas, a forma como se movimentam pela cidade, como se deixam ficar sobre a relva dos parques e como o frio parece não lhes chegar. Alimentas-te de uma adrenalina que cresce a cada passada e queres ver mais, absorver mais, conhecer mais.
Consultas os mapas coloridos na parede - ou o outro, que transportas no bolso do casaco - e deixas que o teu dedo passeie pelas linhas. Fascina-te o facto de todos os caminhos irem dar a qualquer lado e a organização no movimento - parar à direita, circular à esquerda - e em tudo o resto - atuar no espaço limitado, registar o valor da gorjeta, ver espetáculos que têm início mesmo à hora marcada. 
Admiras a capacidade de valorizar o património, a forma como conseguem que puxes da carteira e pagues um bilhete para ver coisas que no sítio de onde vens não te custam nada - e que ainda assim tu (e milhares de pessoas) as vejas com gosto e com vontade de repetir.
Circulas pelos corredores cheios de comida e os teus olhos brilham com tamanha variedade. Queres comer todos os iogurtes, beber todos os sumos e experimentar todas as refeições preparadas (ou quase) que se alinham em teu redor. Abres as portas só para veres os rótulos, só para te certificares que o "V" em tantas embalagens está realmente correto. Maravilhas-te com lojas que têm como nome o preço de todos os artigos e queres ter mais do que uma mala para os poderes levar contigo.
As ruas, apinhadas de gente a qualquer hora do dia, são mantidas limpas por rostos que não se veem e em cada esquina há indicações para que não te percas. E então deambulas: circulas (querendo fazê-lo) como um local, seguindo apressada quando toda a gente o faz e parando onde todos param, virando copos e largando sorrisos soltos que te vêm de dentro. Avanças por avançar, avanças para depois voltares só pelo gosto de caminhares aqui, de veres tudo o que te rodeia e tudo o que se mexe. Avanças só para te cruzares novamente com o verde, ainda que isso signifique atravessares-te no caminho de corredores de fim do dia, só para te poderes agachar e ver os roedores de rabo grande a atravessar a vedação e a virem comer da tua mão - sim, da tua mão!
Admiras-te como as palavras te saem da boca e pela forma como rapidamente te moldas aos ritmos e hábitos e como consegues não ser notada, camuflada quase na perfeição.
Queres encher-te com as cores, os cheios e os sabores e levá-los de volta contigo até que os voltes a sentir, até à próxima vez em que te fundires a esta cidade e a viveres em cada um dos teus passos. Por isso vês nascer o sol deitada na cama, através dessa janela sem estores e deixas que se ponha enquanto te deixas ficar deitada na relva, com o casaco quente de inverno a proteger-te os ossos do frio, a gola-carapuço a envolver-te a cabeça e a mola apertada junto ao pescoço. Vais percorrer as ruas por entre gargalhadas, como se algo mais te corresse nas veias - e não corre - sentindo o vento gelado no rosto e afundando mais as mãos nos bolsos. Não vais disparar, não vais registar o que te envolve - mas aí dentro vais guardar o momento em que atravessas a ponte e olhas em redor, rodopiando, e o momento em que o relógio alto alinha os ponteiros e bate as doze badaladas e do outro lado do rio, a cada badalada, a cor das luzes se altera e se mantem até que uma nova badalada lhe indica a mudança, a substituição, até que ao final das doze badaladas as luzes param e a cidade retoma o seu ritmo como se nada de mágico ali se tivesse passado.

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