Lembro-me de que em novembro, quando fomos a banhos no Creiro, olhei para ti de pêlo molhado e pensei
- Será esta a última vez?
Tens só 8 anos. Tens só 8 anos mas estas últimas semanas tornaram muito claro que és já um sénior.
As hérnias discais que tens desde sempre entraram em crise, provavelmente pelos dias parado no internamento. Coxeavas da pata da infeção e depois, pelo esforço, da pata antes boa. A coluna, arqueada, indicava dificuldades também nas traseiras. Tens dor ciática, coisa que julgava ser só das pessoas.
As semanas passaram com idas ao veterinário dia sim, dia não. Novas maleitas a cada visita. É infeção, vamos tentar com gelo; afinal antibiótico. Não foi suficiente? Juntamos o anti-inflamatório. A beber muita água? Colheita de urina. Densidade baixa? Testamos valores renais e, já agora, marcadores tumorais - não confirmados, felizmente.
Passaram-se já duas semanas neste papel de enfermeira. Ao menos que falasses, que te queixasses, que soltasses um “ai” aqui e ali para percebermos o teu desconforto. O sono leve da noite é interrompido sempre que acho que oiço “miar”. Vou e mudo-te de posição. Faço-te levantar a meio da noite para que se manhã não te custe tanto. Imagino a frustração que a falta de autonomia te deve provocar - lembras-te quando eras cachorro e me mordias sempre que ficavas frustrado? Parece ter sido há décadas.
Deixas fazer tudo. Manipulação, injetáveis, análises. Nem um “ai”.
Temos andado por aqui às apalpadelas, a assistir com expectativa aos dias melhores, a conter a apreensão nos dias menos bons. Não ficaste sozinho nem 5 minutos desde que voltaste a casa, receosos de te deixar tão pouco autónomo.
Hoje, para fechar estar 2 semanas de dedicação exclusiva, saíste pela primeira vez do sofá só com a força das tuas patas. De que serás capaz amanhã?
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