quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

23 de janeiro de 2025

Eu não achei que o resultado fosse ser positivo. Ao contrário do que aconteceu da outra vez, em que eu simplesmente soube que estava doente, desta vez eu não achei que estivesse. Ainda assim, esperei expectante.

Esperei naquela espécie de vestiário com 1 m2, despida da cintura para cima, abraçando-me a mim mesma, cheia de pele de galinha. Esperei, deitada na marquesa, fitando o teto e pensado no tempo que passava, no frio que sentia, nos tremores que me esforçava por controlar. Esperei e questionei porque motivo deixara o livro na sala de espera, que pelo menos me podia evadir para outro sítio enquanto esperava. Esperei, enquanto o médico preparava o ecógrafo e analisava insistentemente o mesmo ponto - um pouco mais para a direita, um pouco mais para a esquerda, pressionando mais ou menos, estudando a imagem procurando sinais de vascularização. E eu esperei, mais ou menos paciente, sentindo o frio tomar conta de mim. Fui largando uma ou outra pergunta, colocadas a medo, receando perturbar a sua concentração e o seu olho clínico. Perguntei e esperei por respostas, mais ou menos evasivas.

Observei os objetos que iam sendo passados por cima de mim e escutei atentamente cada pequena explicação que me ia sendo dada

- Agora vou anestesiar

- Agora vou fazer uma pequena incisão

e os objetos a passarem por cima de mim, da assistente para o médico e, por vezes, novamente no caminho inverso.

- Agora vais sentir uma pressão

- Agora um disparo, não te assustes

Dei um salto. E o objeto a ser devolvido à assistente e a regressar às mãos do médico. Observei-o nessa transição e comparei-o a um termómetro da carne. Seguiram-se mais alguns disparos - talvez dois, talvez três. Pensei na minha amiga C. e questionei-me pelo que teria passado, quantas vezes a teriam picado durante todo o processo. 

A dada altura, um disparo (o último) veio acompanhado de uma dor muito forte - tão forte que me fez soltar um

- Ai, ai, ai… 

Tira braço da posição, mexe, repõe. E todo o autocontrole a fugir-me. O corpo a começar a tremer. O médico a pressionar a incisão e a explicar-me que um vaso tinha sido cortado. A assistente a colocar a mão no meu braço livre. E eu a inspirar e expirar de forma muito controlada, como se em cada movimento respiratório desse comandos a mim mesma

- Inspira, expira. Inspira, expira.

São colocados pensos. O médico continua a fazer pressão. E a dada altura olha para mim e diz-me 

- Isso - seriam os tremores? - é da dor ou dos pensamentos maus?

E eu tento responder mas tudo o que consigo fazer é cobrir os olhos com a mão livre e chorar compulsivamente, ao mesmo tempo que o meu corpo se deixa ir em tremores incessantes. Foi a dor. Foi a dor e o medo, foram as imagens do passado e o medo de que se repetissem.

Visto uma bata, desloco-me para outra sala para mais uma imagem, oferecem-me por várias vezes um banco. Colocam-me o penso cirúrgico e sou encaminhada até à sala de espera. A espera que deveria ser de 5 dias foi afinal de 2. 

Eu não achei que o resultado fosse ser positivo. E não foi. 

Estou safa.

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