domingo, 23 de abril de 2017

23 de abril de 2017

Como se fosse assim tão fácil. E não é. Ou não o é para todas.
Nem sempre se escolhe. Nem sempre se escolhe e às vezes acontece, outras não. E às vezes escolhe-se e nada. Nada. Mês após mês, nada. E como ninguém fala sobre o nada, como ninguém fala sobre quando nada acontece, julgamo-nos sozinhas nisto. Julgamos ser as únicas ansiosas naquela altura do mês, julgamos ser as únicas a conter o entusiasmo perante um dia de atraso e, depois, quando afinal nada, julgamos ser as únicas dececionadas, angustiadas, ansiosas. E não somos.
Não somos e importa falar sobre isto. Importa falar sobre isto para que mais ninguém se sinta uma ilha, para que mais ninguém se sinta um fracasso isolado. Sim, é isso que se sente. Sentimos que o nosso corpo - o nosso, não o de outra pessoa - falhou, não responde e questionamo-nos onde, em que momento, teremos cometido um erro. Sentimo-nos contranatura. O nosso corpo devia responder, não devia falhar. Sentimo-nos contranatura porque, às vezes ainda nem nos 30, o nosso corpo não responde. E mês após mês NADA. E ficamos ansiosas, cada vez mais ansiosas. E ouvimos, uma e outra vez
- Tens de ter calma
- A ansiedade não ajuda nada
E queremos gritar que se coloquem no nosso lugar e que vejam depois se é possível ter calma perante a falha constante, perante mês após mês de nada. E não, não é possível.
Mas algures no tempo disto se fez tabu e ninguém fala, ninguém diz, ninguém conta, ninguém partilha. Ninguém partilha que às vezes, mesmo sendo contranatura, se chega aos 30 como se se chegasse aos 50. E sim, lamentavelmente isso acontece. Às vezes, ainda que poucas, ainda que espero que sejam poucas, há quem chegue aos 30 já como se fosse aos 50. E a culpa não é de ninguém. Não é preciso ter vergonha, não é preciso esconder. Não devia ser preciso porque nessa altura o nada ocupa já tanto espaço que não devia ser preciso escondê-lo.
E quando se chega aos 30, não chegando já o que se sente, não chegando já sentirmo-nos ilhas isoladas e sentirmo-nos culpadas, não chegando já a vergonha, temos ainda de responder à pergunta dos que aguardam por notícias e dizer, como quem não quer a coisa
- Ainda nada
ou então, quando não queremos que a repitam no mês seguinte podemos sempre dizer
- Decidimos adiar
como se falássemos de uma viagem ou de algo com pouco importância. 
Não podemos dizer que estamos mal dispostas porque vamos de certeza ouvir uma piada, não podemos dizer que temos sono porque a piada será igual, mais ainda se nos apetecer comer algo doce ou salgado. E nada disso tem piada.
Não queremos falar sobre isto com qualquer pessoa porque somos nós, é o nosso corpo, que não está a responder. Por isso o melhor é, já que disto se fez tabu, que também da pergunta se faça, e a menos que vejam barrigas a crescer, guardem a pergunta - e as piadas - para vocês. Porque isto dói, e dói muito e, como nos sentimos isoladas, como nos sentimos sozinhas, temos vergonha da resposta. Respeitem isso.
E saibam que não somos ilhas. Antes fôssemos.

(e partilhem, se acharem que há tabu a mais - ou a menos)

Sem comentários:

Enviar um comentário