quinta-feira, 15 de agosto de 2024

15 de agosto de 2024


Saíram da minha vida, não sei se de repente ou se foi um afastamento gradual. 

Eu estava ali, a entrar na faculdade, a conhecer pessoas, a tentar ultrapassar a dor de o ter perdido e às tantas dei conta de que me tinhas desaparecido sem que eu soubesse como nem porquê.

Ou então já mais tarde, depois de mudar de trabalho, de dar a volta ao final de uma relação.

Ou agora, mais recentemente, quando os jantares deixaram de acontecer e dei por mim a insistir para que marcássemos alguma coisa, sentindo-me coxa da tua companhia.


Sei que há na minha história pessoas, várias, que se foram. Um ghosting, como se diz hoje em dia, de quem se vai sem pré-aviso e corta todos os meios de comunicação. Não sei porque o fizeste. Não sei e, talvez por isso, volto recorrentemente a este sítio.

Sonho contigo, uma e outra vez, ou recordo conversas que tivemos, ou rio-me sozinha de coisas que aconteceram - coisas que só tu e eu sabemos, coisas que vivemos, que não partilhámos, que fazem parte da nossa história.


O problema das pessoas que se vão - sem pré-aviso, sem motivo claro - é o que deixam para trás: medos, inseguranças, receio do abandono. Não sendo necessariamente sobre mim, nunca deixa realmente de o ser.

Questiono-me muitas vezes se as pessoas com quem me relaciono agora também um dia baterão com a porta, se estão por pena ou o que as leva, realmente, a estar ao meu lado. Se tu te foste, o que impede os outros de seguirem o mesmo caminho?

Por que razão estiveste ao meu lado? Por que motivo escolheste ir? Falhei-te? Deixei de te servir? Deixou de fazer sentido? Tantas perguntas, tão poucas respostas.


Escrevo isto e pouso os óculos ao meu lado no sofá. Cruzo mais as pernas e puxo o computador para cima. Limpo as lágrimas, uma e outra vez.

Os medos que são nossos não têm de pesar nos outros - mas o que se faz às perguntas sem resposta que continuam a ressoar cá dentro?


No outro dia, depois de um jantar de família, a minha irmã disse-me que ele tinha estado a ler o meu blogue. Achei engraçado. Devo ter sorrido, talvez até um pouco envergonhada - enquanto passava mentalmente em revista os temas que poderia ter encontrado por lá. 

Perguntei-lhe se tinha gostado, o que tinha achado. Perguntei-lhe se tinha chorado e rimo-nos os dois quando lhe sugeri que o usasse naqueles dias em que as lágrimas teimam em não sair. 

Ele comentou que eu nunca usava nomes, só pronomes. Curioso ter reparado.

Há uns anos, um velho amigo disse-me que eu tinha um registo muito próprio que ficava sempre íntimo para quem me lê.


A escrita pode fazer de nós as personagens principais de uma história que lemos - em que às vezes nos encaixamos mesmo. Talvez este texto pudesse ter sido um email, uma mensagem longa. Talvez este texto pudesse ter sido enviado aos destinatários. Talvez. Ou talvez assim possamos todos ser personagem e refletir sobre as vezes em que deixámos de (querer) estar e os motivos que nos fizeram partir ou ficar. Talvez possamos até pegar no telemóvel, no computador, num lápis ou caneta e escrever respostas que devemos a alguém. 


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