domingo, 17 de agosto de 2025

17 de agosto de 2025

No outro dia fui levá-lo à “casa pequenina da vovó”, como ele costuma dizer. No regresso, cedi à vontade de comer um sundae de chocolate - com cobertura dupla - com que andava a sonhar há dias, o que me fez seguir por um caminho diferente do que utilizei na ida.
Avancei devagar com o carro, observando as alterações em meu redor: as casas novas, as remodeladas e as abandonadas; as grandes árvores cortadas, as lombas novas na estrada.
Pedalei muitas vezes por aquela estrada quando era miúda. Pedalei sozinha e com amigos. Seguíamos pelo meio da rua, em grupo, quase sempre tendo como meta o café do Júlio. 
Tinha uma bicicleta cor-de-rosa. Tive, na verdade, várias bicicletas cor-de-rosa - a última dos quais foi um prémio que o meu pai recebeu do Círculo de Leitores, não sei porque motivo, que não só era desta cor como era de senhora, com aquele corte inclinado a meio, que foi motivo para um amuo de adolescente. 
  • Porquê uma bicicleta cor-de-rosa? E ainda por cima de senhora?
E o meu pai feliz da vida, a abrir as portas traseiras da sua Berlingo achando que eu ficaria feliz por ter uma bicicleta nova.
Há várias casas recentes em redor daquela estrada. Há as de todo o género e algumas bem grandes. Agora são mais fechadas ao exterior do que me recordava, com muros altos, palhinhas, chapas. Aqui e ali um vislumbre de uma parte da construção, um reflexo de uma piscina numa parte alta da casa.
Lembro-me de que grande parte daquela estrada não era, à época, alcatroada. Era de terra batida, coberta de brita em algumas zonas. E depois, por algum motivo, lembro-me de que um dia o jardim de uma daquelas casas estava decorado com grandes arranjos de flores. Recordo-me de que os cortinados, visíveis do exterior, tinham um estampado de flores em tons pastel. Lembro-me de que havia um casamento a ser celebrado ali, com empregados a servirem canapés no jardim. Quanto tempo terei ficado a observar? Há quantos anos terá sido? A casa continua no mesmo lugar, agora pintada de uma cor diferente e, claro, com um muro mais alto que retira a visibilidade a curiosos.
Abrandei, aqui e ali, para observar melhor algumas alterações. Ao domingo, ou ao sábado, o meu pai gostava de passar devagar por esta estrada e outras nas redondezas. Observava as casas, às vezes saindo mesmo do carro e, até, visitando casas que se encontravam para venda. Lembro-me de que em tempos houve duas casas em construção que tinham uma resistência anti sísmica  extra e que fizemos a visita à casa como se algum dia a fossemos comprar. Chamava a esta rotina de fim de semana “o passeio dos tristes” - ainda que de tristes tivéssemos pouco.
Resisti a ligar o GPS, hoje em dia utilizado para qualquer trajeto, e usar-me só da minha memória. Virei à direita antes da subida para o Júlio - mais casas para observar - passei pelo centro de jardinagem em que o meu pai gostava de fazer compras (caro, sempre o mais caro!) e cheguei ao Mc Donalds.
Comi o meu sundae enquanto lia um livro. Quando voltei a entrar no carro pensei no meu pai e ri-me sozinha. Se algum dia, há 20 anos atrás, ele acreditaria que aqui iriam abrir um Mc Donalds!

Sem comentários:

Enviar um comentário