terça-feira, 5 de agosto de 2025

4 de agosto de 2025

Sesimbra foi a praia em que cresci. O mar, gelado e calmo, as escadas longas e as caminhadas, cada vez maiores, do estacionamento até à praia. 
Sesimbra era a praia a que ia com o meu pai nos fins de semana e férias que passava com ele. Foi também, em alguns períodos, a praia a que ía com a minha mãe. 
Entrava na água e só saía já depois de os lábios ficarem roxos e os dedos muito enrugados. Por vezes, nadávamos até às cordas que delimitavam a zona dedicada a banhos. Fazia-o por entre gargalhadas e faltas de ar momentâneas quando a minha própria sombra me espantava e me fazia pensar que algum ser marinho se aproximava. Cresci habituada áquele mar gelado e calmo, que não trocava por outro, e por isso sou tão pouco dada a praias com ondas.
Nas férias, por vezes alugávamos gaivotas e pedalávamos para trás e para a frente. Lembro-me de que um dia mergulhei de um dos lados da gaivota, de cabeça, no mergulho que me pareceu ser o mais perfeito de todos. Nota: eu não sei mergulhar de cabeça - e há vídeos recentes que o comprovam.
Sesimbra era a praia a que ía com o meu pai. Pensando bem, além dessa terei ido com ele apenas umas vezes a Tróia e à Figueirinha.
O número de pessoas que frequenta Sesimbra foi crescendo, fruto da construção desenfreada, e eu deixei de ser uma frequentadora assídua. Depois o meu pai morreu - e eu fui gostando cada vez menos de Sesimbra. Mas hoje passámos lá o dia e, a dada altura, sugeri irmos andar de gaivota. Infelizmente, as atuais são modelos bem diferentes dos da altura, com bonecos em 3D e escorregas para a água. 
Pedalei na frente com o Francisco, pouco convencido ao meu lado, segurando o leme. Usei o escorrega uma primeira vez, esqueci-me de tapar o nariz - sim, eu sou das pessoas que tapa o nariz - e ri-me tanto debaixo de água que devo ter engolido um pirolito ou dois. Repeti logo de seguida, dessa feita já de nariz tapado, e voltei a rir-me muito. Estava a divertir-me com aquilo, a soltar-me um bocadinho. Fomo-nos desafiando uns aos outros, e todos (à exceção do Francisco) acabámos por escorregar. Subir as escadas do escorrega com a gaivota a abanar ao sabor da ondulação não é fácil - e parece que quanto mais subimos mais se sente o abanar. Depois, à medida que o escorrega ia ficando mais molhado, íamos ganhando velocidade na descida e, uma vez que o nosso escorrega era dos curvos, saindo ligeiramente da rota. Na minha última descida acabei por me virar tanto que entrei de frente no mar - e talvez amanhã tenha nódoas negras que ajudem a recordar. 
Já no caminho de regresso a casa, conduzindo em estradas escuras com o F a dormir no banco de trás, por várias vezes me ri sozinha ao lembrar-me das descidas do escorrega e dos mergulhos no mar. 
Sesimbra foi a praia em que cresci - e talvez hoje tenha voltado uns anos atrás.


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