quarta-feira, 10 de julho de 2013

10 de julho de 2013

Sinto os minutos a passar. Um atrás do outro. Estou focada no avançar dos ponteiros do relógio, no passar dos dias. E vejo-os a esgotarem-se.
Encosto as minhas costas ao banco e observo o exterior pela janela entreaberta à medida que avançamos pela estrada. Não lhe presto atenção e os meus pés, ao fundo das pernas esticadas, estão cruzados um sobre o outro. Não olho a estrada, não pressiono os pés com força. As mãos estão poisadas com a palma virada para cima - uma na perna direita, outra do lado esquerdo do banco, no limite deste. À medida que avançamos procuro controlar a respiração, procuro controlá-la à medida que as palavras que mastigo me toldam os movimentos e me impedem de levantar o braço e de o esticar até ti. Controlo a respiração e controlo os pensamentos, o contar dos minutos, das horas. Quero desligar o que me afasta daqui, de ti. 
Ouço-te a cantar por cima da música do rádio e sorrio, sorrio com os olhos ainda lá fora - que em ti os olhos poderiam ficar molhados. Mantenho-me em silêncio mesmo quando a tua mão se poisa na minha perna e as entranhas se contorcem com vontade de te agarrarem.
Podemos pisar esta calçada toda a noite, todos os dias. Puxo a gola do casaco de encontro à pele, aperto-a bem. Aperto-a bem e aperto mais a tua mão na minha à medida que avançamos pela rua ainda limpa, ainda vazia de pessoas, ainda sem copos vazios. Talvez se eu a apertar muito, talvez se eu a apertar com força, o consiga fazer de forma a que os dias, as horas, os minutos não contem mais, de forma a que a contagem decrescente seja interrompida, de forma a que o tempo possa passar por nós sem causar danos.

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