quarta-feira, 24 de julho de 2013

24 de julho de 2013

Durante anos, quando em pleno verão percorria os corredores dos verdes do supermecado, olhava-os assim meio de lado. Enquanto cheirava as mangas pousadas logo ali, procurando perceber se as deveria levar comigo ou não, os meus olhos estavam pousados neles. O rosa, a pele rija e enrugada, o formato redondo de pequena dimensão.
Em algumas das vezes, quando as mangas a nada cheiravam - e por isso as mãos permaneciam vazias - as pontas dos meus dedos tocavam-lhes ao de leve. Tocava-lhes ao de leve e logo a inspiração era mais longa, mais forte, reagindo à textura há tanto conhecida. Talvez os tenha querido levar comigo. Levá-los comigo para mais tarde os abrir, para mais tarde rasgar a pele e saborear o interior, o branco sumarento. Mas de cada vez que os meus dedos lhes tocavam ao de leve, de cada vez que tocavam a sua pele e a minha inspiração se alongava, os meus olhos humedeciam-se transbordando memórias.
A cada inspiração uma imagem. Os pratos brancos de rebordo verde e limão pintado, a mesa de pinho, as almofadas forradas. Ou as barras de azulejos cheias de frutos. E as mãos de unhas roídas estendendo-os na minha direção, o
comprei-os para ti!
a dizer-me que deveria comê-los.
Ontem pu-los no cesto. Enchi-me de coragem e pu-los no cesto. E depois do jantar coloquei-os no 
guardanapo verde à minha frente e decidi-me a abri-los, um de cada vez. Quando as minhas unhas lhes rasgaram a pele e o sumo frio me molhou os dedos talvez tenha até fechado os olhos. Arrancada toda a pele levei-os à boca e fiquei mais pequenina. De repente, fiquei novamente pequenina - pequenina numa casa também ela pequena. E deixei que a pele me ficasse nos dedos, pressionando-a entre o indicador e o polegar, para que o tato se juntasse ao paladar neste reavivar de memórias.

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