sexta-feira, 26 de julho de 2013

26 de julho de 2013

Eu posso ter a perceção, ligeira, de que mudei. Ao início, quando a mudança estava em cada um dos meus passos, na forma como assentava os pés no chão, eu sabia - sabia tão bem - que algo em mim estava a mudar. Não algo, muito de mim. Sabia que o meu foco principal mudara - de fora para dentro - que as lentes cinzentas haviam sido substituídas por outras mais brilhantes. Sabia.
Mas à medida que os passos, ainda que mudados, conquistam um ritmo constante a mudança é cada vez menos notada. E às vezes - talvez mesmo muitas vezes - coloca-se os pés no chão com uma zanga maior a crescer em nós, uma zanga maior pelo que somos hoje ser quase, quase igual ao que fomos ontem. É como se já não chegasse, como se precisássemos sempre de mais. Mais. Mais. Como se todos os anos de imobilidade tivessem agora de ser compensados por mudanças constantes, mesmo que bruscas. 
E então vive-se com o que se tem mas querendo sempre mais. Sempre. Hoje muito, amanhã um bocadinho - mas mais, sempre mais. 
Às vezes, quando a luz entra por aqui adentro, coloco os pés no chão um atrás do outro cheia de sorrisos. Quero o que tenho mais do que em qualquer outro momento. Quero ficar no exato ponto onde estou. Mas vezes há em que o que tenho me parece tão insignificante que ao olhar o espelho quero gritar comigo própria e mandar-me descer do pedestal. Quero gritar ao reflexo e dizer-lhe que não fez nada mais do que a sua obrigação - adiada por tanto tempo.
Habituamo-nos depressa às mudanças e quase nos esquecemos de onde vimos. E mesmo que digamos que queremos esquecer o passado talvez não o devessemos mesmo fazer. Quero mais. Quero mais mas preciso de olhar para trás para saber que estou a por os pés no chão de forma certa. Preciso de me olhar ao espelho e de saber que cada marca visível ao olho representa uma mudança - das outras, das que não se veem.
E é por isso que ao ouvi-lo de fora os meus olhos se querem fechar e a covinha se forma mais abaixo, com os braços a resistirem ao impulso de me rodearem para me lembrarem de que consegui.

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