- Porquê uma bicicleta cor-de-rosa? E ainda por cima de senhora?
domingo, 17 de agosto de 2025
17 de agosto de 2025
terça-feira, 5 de agosto de 2025
4 de agosto de 2025
Sesimbra era a praia a que ia com o meu pai nos fins de semana e férias que passava com ele. Foi também, em alguns períodos, a praia a que ía com a minha mãe.
Entrava na água e só saía já depois de os lábios ficarem roxos e os dedos muito enrugados. Por vezes, nadávamos até às cordas que delimitavam a zona dedicada a banhos. Fazia-o por entre gargalhadas e faltas de ar momentâneas quando a minha própria sombra me espantava e me fazia pensar que algum ser marinho se aproximava. Cresci habituada áquele mar gelado e calmo, que não trocava por outro, e por isso sou tão pouco dada a praias com ondas.
Nas férias, por vezes alugávamos gaivotas e pedalávamos para trás e para a frente. Lembro-me de que um dia mergulhei de um dos lados da gaivota, de cabeça, no mergulho que me pareceu ser o mais perfeito de todos. Nota: eu não sei mergulhar de cabeça - e há vídeos recentes que o comprovam.
Sesimbra era a praia a que ía com o meu pai. Pensando bem, além dessa terei ido com ele apenas umas vezes a Tróia e à Figueirinha.
O número de pessoas que frequenta Sesimbra foi crescendo, fruto da construção desenfreada, e eu deixei de ser uma frequentadora assídua. Depois o meu pai morreu - e eu fui gostando cada vez menos de Sesimbra. Mas hoje passámos lá o dia e, a dada altura, sugeri irmos andar de gaivota. Infelizmente, as atuais são modelos bem diferentes dos da altura, com bonecos em 3D e escorregas para a água.
Pedalei na frente com o Francisco, pouco convencido ao meu lado, segurando o leme. Usei o escorrega uma primeira vez, esqueci-me de tapar o nariz - sim, eu sou das pessoas que tapa o nariz - e ri-me tanto debaixo de água que devo ter engolido um pirolito ou dois. Repeti logo de seguida, dessa feita já de nariz tapado, e voltei a rir-me muito. Estava a divertir-me com aquilo, a soltar-me um bocadinho. Fomo-nos desafiando uns aos outros, e todos (à exceção do Francisco) acabámos por escorregar. Subir as escadas do escorrega com a gaivota a abanar ao sabor da ondulação não é fácil - e parece que quanto mais subimos mais se sente o abanar. Depois, à medida que o escorrega ia ficando mais molhado, íamos ganhando velocidade na descida e, uma vez que o nosso escorrega era dos curvos, saindo ligeiramente da rota. Na minha última descida acabei por me virar tanto que entrei de frente no mar - e talvez amanhã tenha nódoas negras que ajudem a recordar.
Já no caminho de regresso a casa, conduzindo em estradas escuras com o F a dormir no banco de trás, por várias vezes me ri sozinha ao lembrar-me das descidas do escorrega e dos mergulhos no mar.
Sesimbra foi a praia em que cresci - e talvez hoje tenha voltado uns anos atrás.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
25 de fevereiro de 2025
Há uns anos foi o covid a fazer disparar a minha ansiedade. O covid ou a maternidade. Ou talvez a maternidade e a doença tenham sido o ponto de partida. Ou talvez a infertilidade. Sei que um dia, já o covid durava há um ano, dei por mim a sentir uma pressão no pescoço, um aperto. Achei que era ele que estaria de volta. Afinal, depois de um telefonema para o meu médico e uma receita médica aviada, percebi que o que tinha era ansiedade. Ele receitara-me um ansiolítico e eu acordei ótima no dia seguinte.
- is it a earth quake?
mas o tremor foi rápido o suficiente para que eu tivesse dúvidas, para que lhes dissesse
- não, foi só alguém a saltar cá em cima.
Logo depois o meu telefone começou a apitar com mensagens, várias, e percebi que tinha acabado de enganar um grupo de alunos.
Desde aí que os meus ouvidos ficaram mais atentos e todos os meus sentidos mais alerta. Há um medo, agora acordado, que habita em mim.
No sábado, enquanto atravessava sozinha a ponte, pensei que os deixava para trás e que não estaríamos juntos se acontecesse. No início desta semana, a meio de uma reunião, ouvi um barulho e senti que o chão me tremia debaixo dos pés. Congelei. Troquei olhares com uma colega e as duas pensámos ter sentido algo. O IPMA não o mostra e não sei o que terá sido. Contudo, sinto que gelei, que estive a um bocadinho de ficar mesmo aflita.
Hoje, sozinha em casa com o F e o Alf, dei por mim a pensar “se acontece hoje, estou sozinha em casa com uma criança e um cão (parcialmente) inválido.” Talvez os dedos de duas mãos não sejam suficientes para contar o número de vezes, por dia, que tenho consultado o IPMA
Em todos os motivos que podem ter dado origem à minha ansiedade, para cada um deles, percebo que o que a gera é a impossibilidade de controlar. Todos estes eventos que fogem, completamente, aos meu controlo desestabilizam-me, tiram-me o sono, agitam-me.
Viver na minha cabeça não é fácil. Quem me dera que ao menos a ansiedade fugisse dela.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
23 de janeiro de 2025
Eu não achei que o resultado fosse ser positivo. Ao contrário do que aconteceu da outra vez, em que eu simplesmente soube que estava doente, desta vez eu não achei que estivesse. Ainda assim, esperei expectante.
Esperei naquela espécie de vestiário com 1 m2, despida da cintura para cima, abraçando-me a mim mesma, cheia de pele de galinha. Esperei, deitada na marquesa, fitando o teto e pensado no tempo que passava, no frio que sentia, nos tremores que me esforçava por controlar. Esperei e questionei porque motivo deixara o livro na sala de espera, que pelo menos me podia evadir para outro sítio enquanto esperava. Esperei, enquanto o médico preparava o ecógrafo e analisava insistentemente o mesmo ponto - um pouco mais para a direita, um pouco mais para a esquerda, pressionando mais ou menos, estudando a imagem procurando sinais de vascularização. E eu esperei, mais ou menos paciente, sentindo o frio tomar conta de mim. Fui largando uma ou outra pergunta, colocadas a medo, receando perturbar a sua concentração e o seu olho clínico. Perguntei e esperei por respostas, mais ou menos evasivas.
Observei os objetos que iam sendo passados por cima de mim e escutei atentamente cada pequena explicação que me ia sendo dada
- Agora vou anestesiar
- Agora vou fazer uma pequena incisão
e os objetos a passarem por cima de mim, da assistente para o médico e, por vezes, novamente no caminho inverso.
- Agora vais sentir uma pressão
- Agora um disparo, não te assustes
Dei um salto. E o objeto a ser devolvido à assistente e a regressar às mãos do médico. Observei-o nessa transição e comparei-o a um termómetro da carne. Seguiram-se mais alguns disparos - talvez dois, talvez três. Pensei na minha amiga C. e questionei-me pelo que teria passado, quantas vezes a teriam picado durante todo o processo.
A dada altura, um disparo (o último) veio acompanhado de uma dor muito forte - tão forte que me fez soltar um
- Ai, ai, ai…
Tira braço da posição, mexe, repõe. E todo o autocontrole a fugir-me. O corpo a começar a tremer. O médico a pressionar a incisão e a explicar-me que um vaso tinha sido cortado. A assistente a colocar a mão no meu braço livre. E eu a inspirar e expirar de forma muito controlada, como se em cada movimento respiratório desse comandos a mim mesma
- Inspira, expira. Inspira, expira.
São colocados pensos. O médico continua a fazer pressão. E a dada altura olha para mim e diz-me
- Isso - seriam os tremores? - é da dor ou dos pensamentos maus?
E eu tento responder mas tudo o que consigo fazer é cobrir os olhos com a mão livre e chorar compulsivamente, ao mesmo tempo que o meu corpo se deixa ir em tremores incessantes. Foi a dor. Foi a dor e o medo, foram as imagens do passado e o medo de que se repetissem.
Visto uma bata, desloco-me para outra sala para mais uma imagem, oferecem-me por várias vezes um banco. Colocam-me o penso cirúrgico e sou encaminhada até à sala de espera. A espera que deveria ser de 5 dias foi afinal de 2.
Eu não achei que o resultado fosse ser positivo. E não foi.
Estou safa.