terça-feira, 22 de janeiro de 2013

22 de janeiro de 2013 (parte I)

Passo por ti uma vez. Estás sentada no degrau de pedra, cigarro numa mão, copo com tonalidade rosa na outra - e o olhar para além do chão, num sítio mais fundo, mais distante. Passo por ti uma vez, hesito, e volto a passar. Volto a passar para ficar, para, sem palavras, me sentar ao teu lado, a poucos centímetros de ti e me deixar ficar a ouvir-te no silêncio.
Não me olhas - não de frente - mas quando os meus olhos pousam em ti, procurando palavras que os teus lábios não dizem, o teu corpo contrai-se subitamente, procurando controlar os espasmos de uma dor escondida. O teu corpo inteiro quer ceder - só o órgão acima do pescoço o faz manter enclausurada a dor.
Hesitas. Abres a boca uma e outra vez. Abres a boca e pareces surpreendida com a total ausência de som. Passas a mão pelo pescoço, sobre a garganta, procurando assim desfazer o nó molhado que ali se criou. Abres a boca uma e outra vez e, quando finalmente o movimento é acompanhado de um som, não é só um mas toda uma sequência - uma sequência de sons que acompanha o abrir e fechar da tua boca, o tapar das mãos com as mangas da camisola, o inspirar e expirar acelerado.
Quero tocar-te. Quero passar a mão por cima dos teus ombros e puxar-te mais para mim. Não o faço para não quebrar a contração do teu corpo - porque sem ela os sons sairiam abafados, soluçados. Puxo um cigarro do teu maço e concentro-me nas tuas palavras, nos sons sequenciados que acompanham o abrir e fechar da tua boca.
As tuas analogias são a melhor forma que tens de te expressares. São a tua contração sonora. Queres que ouça entre palavras, que saiba entender o que deixas por dizer. Falas, alongas-te nas comparações, e nem sempre me é fácil ouvir para além do que me dizes, perceber o que me queres realmente dizer.

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