domingo, 27 de janeiro de 2013

27 de janeiro de 2013

Seguro o copo com ambas as mãos e trago-o à altura do queixo. Deixo que a cabeça descaia, que se apoie no plástico da tampa, enquanto o calor do copo se estende às minhas mãos.
O vidro está a ficar molhado. São gotas. Primeiro pintas, depois pintas que se estendem em linhas quase retas, com pequenas curvas e contracurvas, tão ligeiras, tão suaves, que um olhar menos atento poderia não conseguir distingui-las. Está a chover lá fora. É lá fora, sim, mas em alguns momentos parece-me que é cá dentro, parece-me que se esticar o dedo indicador poderei sentir a água gelada de encontro à minha pele.
Observo as gotas, primeiro pintas, depois linhas, e as luzes amareladas que se espelham no vidro na noite que agora começa a cair. É agora, é daqui a muito pouco, mas a chuva que caiu das nuvens negras durante todo o dia, durante todos os últimos dias, parece ter trazido a noite há já muito tempo.
Beberico, levando o copo aos lábios, e deixo que o café, o chocolate e o leite me aqueçam, estendendo o calor do copo para além das minhas mãos.
Sinto cada gota no vidro como se fosse em mim. Cada gota que embate contra ele podia estar a tocar-me a pele. Cada gota que escorre por ele abaixo poderia estar a escorrer aqui, podia estar deslizar, podia demorar-se até parar, hesitante, no meu queixo. E o meu dedo indicador que se estica para verificar que as gostas estão lá fora podia afinal tocar-me a pele, amparando as gotas desde o início do seu percurso.
Fecho os olhos, deixando que o café, o chocolate e o leite quentes se mantenham por ali, espicaçando as pupilas gustativas e fazendo-me esquecer que lá fora há gostas de água a bater contra o vidro e a escorrer por ele abaixo.

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