quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

23 de janeiro de 2013 (parte II)

Calo as perguntas, ao mesmo tempo que o meu balão de insegurança, que antes transportava comigo para todo o lado debaixo do braço, quase me envolve. É ele que me transporta agora.
O balão esta cheio, tão perto de rebentar que de quando em vez tenho de lhe aliviar um pouco a pressão.
E usas analogias.
Sim, uso. Uso analogias porque são a forma de dizer sem o fazer realmente - ou a forma de, dizendo, poder refugiar-me nas múltiplas interpretações possíveis. Uso as minhas analogias e, por vezes, coloco questões. Coloco-as cheia de medo e, de cada vez que o faço, enquanto aguardo a resposta, o balão de insegurança aumenta tanto que as tuas palavras, à partida tranquilizadoras, conseguem apenas devolvê-lo ao tamanho anterior - e não mais. E é por isso que acabamos por voltar sempre ao mesmo: comigo a usar analogias para obter respostas que possam aliviar a pressão no balão da insegurança - e com nenhuma das respostas a conseguir o efeito necessário.
Vou levantar os olhos agora. Vou levantar os olhos da calçada escura, vou pousar o copo vazio no chão e acender mais um cigarro e vou olhar para ti, sentado ao meu lado neste degrau de pedra. Vou olhar-te a medo, e sei que o meu corpo vai contrair-se mais, mas agora que o som saiu pela minha boca, acompanhando o seu abrir e fechar, já me podes tocar e puxares-me para ti. Vão haver espasmos à medida que o nó molhado se desfizer na minha garganta - mas agora que já podes quebrar a contração do meu corpo, agora que já não há sons que possam sair abafados ou soluçados não precisas de te manter a alguns centímetros.

Sem comentários:

Enviar um comentário