segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

25 de novembro de 2014

Fico aqui sentada a ver o tempo a passar. Penso
- podia ligar-lhe para falarmos um bocadinho
mas depois lembro-me que isso implicaria ficar aqui sentada ou ter de aguentar o braço esticado à minha frente.
Penso que se lhe ligar vou ter tendência a olhar para a minha imagem no canto esquerdo, verificando se a minha franja se encontra composta o suficiente ou se, pelo contrário, se abriu ao meio pela falta de corte. Penso que se não olhar para a minha imagem olharei para a dela - e que o meu coração se vai apertar um bocadinho enquanto evito fazer "aquela cara".
No outro dia no trânsito - que é dos momentos, juntamente com o banho, em que mais me deixo pensar - apercebi-me mais uma vez de que tudo acontece quando tem de acontecer. Não sei se tudo, tudo mas grande parte. Por exemplo, eles nunca poderiam ter ido antes. Seria o fim do mundo em cuecas. E então, felizmente, eles não foram.
Foram vários os dias em que atravessei a ponte a caminho de sua casa, vidro aberto, cigarro na mão - longe ainda de saber que em breve este percurso passaria a ser o meu, dia após dia. Sempre achei que havia algo de tranquilizador neste percurso. O sol a pôr-se à direita, lá mais à frente, sobre a água.
Antes de ela ir para lá durante vários meses, começou por ir apenas um mês. Foi visitá-lo, foram passear. Um dia, enquanto falávamos pelo Skype, ele disse
- Temos uma coisa para te dizer
mas o
Temos uma coisa para te dizer dito com ar solene, sério. E eu perguntei a medo
- Já não voltam?
- Não - disse ele. 
Depois explicitaram. E eu desviei os olhos da câmara, desviei-os para que não vissem que brilhavam com aquele brilho molhado. E ouvi-a dizer
- Não faças essa cara.
Uns dias depois - ou talvez uns dias antes - ela disse-me que estava agora mais descansada porque sabia que não me deixava sozinha, teria sido pior noutra altura. E eu não podia concordar mais. Esta, como muitas outras coisas, aconteceu quando tinha de acontecer - ainda que eu preferisse que não acontecesse nunca.

3 comentários:

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  2. Chego a casa e leio " vai ao meu blog".
    Penso, com olhos brilhantes e coração a encher-se "Escreveu algo sobre a minha pessoa..."
    e com a certeza de que bem escrito, como sempre!
    Volto à janela para privarmos -da melhor maneira que podemos neste momento- sobre o seu testemunho de sentimentos.
    São 6 da manhã lá.
    Que raio de ideia esta de haver várias porções de superfície esférica compreendidas entre dois semiplanos! Se a terra fosse plana talvez pudessemos estar a falar neste momento.
    Continuo a sentir-me mais tranquila ao saber que tem, agora, quem cuida dela " à séria".
    Olho de novo para o relógio. Dentro de 30h já a poderei abraçar outra vez.
    Sorrio.

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