No natal enviámos um email ao senhor do catering. Queríamos ter enviado também um email ao padre mas acabou por nos faltar o tempo (e também a lembrança). Sinto, sentimos, que todas as pessoas que fizeram parte daquele dia farão para sempre parte das nossas vidas: a Pureza do vestido, o meu Gabriel do cabelo, o Tadeia do catering, o padre Abraão da melhor cerimónia de sempre, o Bruno e o Tiago das fotografias - os nossos amigos, a nossa família.
Tivemos a sorte de nos rodearmos de pessoas sempre disponíveis a ajudar, mesmo com o mau feitio que a ansiedade por vezes provocou. O padre Abraão não foi exceção. Ele foi reuniões à noite à porta da igreja em que discutimos os perigos de andar de mota, missal revisto online, telefonema no dia do casamento para o avisar de que estava atrasado. E agora sorrio quando penso nisso. Eu fui a noiva que fez questão de escrever no croqui "A noiva será pontual". E teria sido, não fosse saber que o padre estava atrasado.
Digo, com alguma frequência, que não me lembro de ouvir a música. Tenho a sensação de ter percorrido o corredor demasiado depressa. Sei que assim que passei a porta o meu queixo começou a tremer e os meus olhos se encheram de lágrimas que não chegaram a cair. Vi-a lá à frente, de queixo também a tremer e de lágrimas nos olhos a dizer-me com os lábios
- Não chores.
Foi um meio sorriso, meio lágrima, foi encontrar em todos os olhos pousados em mim todo o carinho do mundo - até o deles. Nunca, em momento algum da minha vida, me senti tão acarinhada. E fui tão feliz naquele momento. Procuro guardá-lo em mim, ir voltando lá.
Sorrio quando penso na cerimónia, na forma como o padre integrou os meus alunos, como brincou e nos acarinhou a todos com as suas palavras, como - quando todos se questionavam se podiam aplaudir - ele pediu que nos cantassem os parabéns e nos deu para apagar as velas do altar. Pressiono ligeiramente um lábio contra o outro quando me lembro da forma como ela fez a sua leitura, revendo-me a mim própria anos antes. Rio-me quando me lembro de colocar o meu lenço molhado no bolso do noivo.
Eu nunca quis casar. Até chegar a altura em que quis. Eu dizia que ia odiar o dia do casamento, que "não sou uma pessoa de pessoas", que não ia ter paciência para estar rodeada de gente todo o dia. Mas o dia voou. Não era gente, era a minha gente - e isso fez toda a diferença. Não houve uma só pessoa que eu não fizesse questão de ter presente - naquele dia e em todos os outros.
E o dia voou, entre fotografias que eternizaram aqueles momentos, entre sorrisos partilhados, entre passos de dança dentro do vestido já castanho de arrastar no chão.
6 meses depois, continuo com saudades deste dia. Obrigada. Foi o dia mais feliz da minha vida. E tenho as melhores pessoas.