segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

25 de janeiro de 2016

No outro dia vi alguns dos seus trabalhos mais recentes, vi como o seu trabalho está a crescer, a ganhar outra dimensão, e tive saudades. Tive saudades do nervoso miudinho antes de cada prova, das nossas vozes no elevador apertado. Tive saudades de entrar dentro do vestido, de as ver a ajustarem-no a mim, num puxa daqui e puxa dali. Tive saudades de me olhar ao espelho, prova após prova, e de o ver, de nos ver, ganhar forma. Tive saudades até das nossas vozes em sussurro elevador abaixo, procurando não ser ouvidas até ouvirmos a porta que sempre estourava à nossa saída. Tive saudades daquele momento em que o vi olhar para mim dentro daquele vestido como quem vê, de repente, que eu cresci.
No natal enviámos um email ao senhor do catering. Queríamos ter enviado também um email ao padre mas acabou por nos faltar o tempo (e também a lembrança). Sinto, sentimos, que todas as pessoas que fizeram parte daquele dia farão para sempre parte das nossas vidas: a Pureza do vestido, o meu Gabriel do cabelo, o Tadeia do catering, o padre Abraão da melhor cerimónia de sempre, o Bruno e o Tiago das fotografias - os nossos amigos, a nossa família.
Tivemos a sorte de nos rodearmos de pessoas sempre disponíveis a ajudar, mesmo com o mau feitio que a ansiedade por vezes provocou. O padre Abraão não foi exceção. Ele foi reuniões à noite à porta da igreja em que discutimos os perigos de andar de mota, missal revisto online, telefonema no dia do casamento para o avisar de que estava atrasado. E agora sorrio quando penso nisso. Eu fui a noiva que fez questão de escrever no croqui "A noiva será pontual". E teria sido, não fosse saber que o padre estava atrasado.
Digo, com alguma frequência, que não me lembro de ouvir a música. Tenho a sensação de ter percorrido o corredor demasiado depressa. Sei que assim que passei a porta o meu queixo começou a tremer e os meus olhos se encheram de lágrimas que não chegaram a cair. Vi-a lá à frente, de queixo também a tremer e de lágrimas nos olhos a dizer-me com os lábios
- Não chores.
Sorrio quando penso na cerimónia, na forma como o padre integrou os meus alunos, como brincou e nos acarinhou a todos com as suas palavras, como - quando todos se questionavam se podiam aplaudir - ele pediu que nos cantassem os parabéns e nos deu para apagar as velas do altar. Pressiono ligeiramente um lábio contra o outro quando me lembro da forma como ela fez a sua leitura, revendo-me a mim própria anos antes. Rio-me quando me lembro de colocar o meu lenço molhado no bolso do noivo.
Eu nunca quis casar. Até chegar a altura em que quis. Eu dizia que ia odiar o dia do casamento, que "não sou uma pessoa de pessoas", que não ia ter paciência para estar rodeada de gente todo o dia. Mas o dia voou. Não era gente, era a minha gente - e isso fez toda a diferença. Não houve uma só pessoa que eu não fizesse questão de ter presente - naquele dia e em todos os outros.
E o dia voou, entre fotografias que eternizaram aqueles momentos, entre sorrisos partilhados, entre passos de dança dentro do vestido já castanho de arrastar no chão. 
6 meses depois, continuo com saudades deste dia. Obrigada. Foi o dia mais feliz da minha vida. E tenho as melhores pessoas.

2 comentários:

  1. Iremos ter sempre saudades desse dia e a ele voltaremos muitas e muitas vezes. E a cada regresso descobriremos "das nossas pessoas" um novo sorriso, um novo olhar especial, novas palavras, que apesar de não verbalizadas, ficaram gravadas em nós...no dia mais feliz das nossas vidas.

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