Uma semana inteira como se estivesse bem.
Sento-me na cadeira (não muito) confortável, pouso as mãos delicadamente no colo (como que para completar o quadro de pessoa já muito equilibrada que tenho vindo a pintar para mim mesma), observo a janela com um brilhozinho nos olhos e abro a boca para uma qualquer conversa de circunstância pré-preparada na minha mente ao longo dos últimos dias.
De repente poderia ser só eu e a janela luminosa, só eu, a cadeira e os raios de sol que atravessam a ganga das minhas calças, me tocam a pele e me aquecem de forma exagerada. Desejo que fôssemos só nós, objetos inanimados. As minhas mãos estão a apertar-se uma à outra enquanto eu me questiono (talvez em voz alta) porque estou ali, o que faço ali sentada, do que me vou queixar desta vez.
Mexe e remexe cá dentro e isso incomoda-me. Quero descalçar-me e caminhar descalça pelo chão (que imagino) frio; quero sentar-me à chinês daquela forma demasiadamente contorcida de que tanto gosto; quero gritar palavrões e perguntar o que raio estou eu ali a fazer. E as palavras ou as lágrimas, as palavras e as lágrimas, vão saindo por entre aquele nó que me aperta a garganta e me transforma num sussurro esganiçado. Choro por todas as coisas e inclusivamente choro por chorar, e choro por chorar o que não cheguei a ter e o que questiono se algum dia chegarei a ter. Choro o que não sabia ainda ter para chorar, choro as incógnitas da vida que deveria estar a celebrar, choro as inseguranças ou a falta de conhecimento desta vida que se me apresenta a cada dia.
E há toda uma tensão a transformar-se numa enorme dor de cabeça – não sei se para me avisar de que está a chegar se para me informar da sua partida.
Gostava que tivéssemos sido só nós: eu, a cadeira (não muito confortável) e a janela luminosa por onde entrava o sol que atravessava a ganga das minhas calças e me aquecia as pernas de forma exagerada. Gostava que tivéssemos sido só nós desta vez. Talvez da próxima – penso que ainda não.
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