domingo, 16 de setembro de 2012

25 de junho de 2012


Vejo-te mas não te vejo bem. Não sei se acredito ou se sequer quero acreditar. Tu estás aqui, tu vieste do teu fim do mundo e surpreender-me fez parte do teu percurso e agora eu estou aqui, completa pelas minhas pessoas e/mas tu também aqui estás e eu não sei se me sinto contente, se me sinto pressionada, mas um sorriso maior nasce em mim e ajudado ou não por este líquido rosado bem gelado que se vai sumindo na minha mão, este sorriso vai-se tornando maior, contagiando olhos e gestos. E abraço-te, afinal sempre te abraço e parece tão natural, sai-me tão bem. E os gestos vão saindo cada vez mais a dois, numa sincronia que não está tão bem sincronizada como sequenciada, mas na qual os gestos e as palavras se vão ligando. E tu ligas-te, tu e as outras pessoas ligam-se e eu ligo-me também e tudo funciona num circuito simpático e cheio de sorrisos, palavras e gestos simpáticos. E gosto, começo a gostar das pessoas que giram à tua volta e apetece-me girar como elas, giram com elas e contigo, fazer parte desse circuito. E faço, prolongo a noite fazendo parte, tornando-me parte. Quando me torno parte colocamo-nos à parte e seguimos à parte de tudo o que gira em torno de nós. E nós giramos também. Talvez cada um de nós o faça por si mesmo mas a verdade é que o fazemos também a dois.
Vamos girando, mas vamos sincronizando, juntando, procurando encontrarmo-nos nesse trajeto. Ou não, talvez não, talvez só procuremos girar juntos porque assim o fazemos mais depressa. Depressa. Giramos depressa em conjunto mas ao pararmos de girar quebramos o conjunto e somos dois corpos soltos, pousados lado a lado, um de nós pensando no porquê, o outro adormecendo após o porque. Girámos e parámos e quando um de nós quer continuar a girar a presença do outro parado incomoda, como se ocupasse demasiado espaço e assim impedisse uma nova circunferência. Há um de nós que quer abanar o outro e falar sobre o porque para chegar ao porquê, mas quando o outro começa a girar em sentido contrário as circunferências não se cruzam mais, não é possível partilhar informação e ficamos cada vez mais distantes. Dois corpos soltos não pousados lado a lado mas dois corpos soltos caminhando em sentidos opostos.
O corpo solto que és tu quer ficar, o corpo solto que sou eu quer que vás, não por não querer que fiques mas por não saber o que fazer com a tua presença. Então circulas para longe, não te colocas mais à parte do circuito de que fazes parte, antes o reintegras. E eu assisto, ou queria assistir, ao mesmo tempo que circulo ora para a frente ora para trás, procurando reencontrar o rumo que, de girar tão depressa, se tornou pouco claro. E circulo, vou circulando, para a frente e para trás, por vezes nem chegando a circular mas apenas a balouçar suavemente, hesitante, procurando perceber que pessoa é esta que circula assim com vontade, girando depressa em direção a ti mas que questiona o porquê e evita o porque, ora empurrando ora puxando, procurando estabilizar a circunferência na vertical – e não na horizontal – num ponto a meio caminho do ir e do ficar, mas num ponto não horizontal, não horizontal com dois corpos pousados lado a lado mas vertical, com dois corpos circulando lado a lado, ou estabilizados lado a lado, mas lado a lado, na vertical.

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