Sento-me contigo na esplanada, colocando em cima da mesa a embalagem dos pastéis, acendo um cigarro e ao expirar o fumo, depois de expirar o fumo, pergunto-te tranquilamente:
- A que te sabe a vida?
Franzes o sobrolho, soltas um meio sorriso, puxas de um cigarro (ainda por acender) e dizes:
- Café Mocca Branco, com extra chocolate branco no interior, não na cobertura. É a isso que me sabe a vida.
Pego no teu copo, seguro-o com ambas as mãos, rodando-o entre elas, aquecendo-as com ele, e levo-o à boca, fechando os olhos para o saborear.
- É a isso que me sabe a vida nos dias bons - dizes, apontando - nos outros, nos dias em que não dou o sorriso certo na hora do pedido, a dose extra de chocolate não é colocada da melhor forma e nesses dias o sabor não é tão doce. E há dias em que a vida tem esse sabor também.
Sorrio. Esboço um sorriso de compreensão.
- E as pessoas? As pessoas também te sabem a isso?
- Às vezes. Às vezes as pessoas também me sabem a Café Mocca Branco com dose extra de chocolate branco. Mas é só às vezes. Noutras o primeiro golo engana.
- Como assim?
- Então, ao primeiro golo parecem-te doces mas, depois, ao segundo e terceiro esse sabor vai-se dissipando e o que fica não chega para valer a pena. Às vezes tudo o que conseguem é puxar-te cá para fora, cheia de expetativas, mas depois levam-te a concluir que, de vez em quando, todos precisamos de uma massagem ao ego. Às vezes eu sou a massagista, e tu também, aliás, somos todos. Massajamos egos alheios à espera da retribuição que não chega e é exatamente nessa altura, quando a massagem não chega até ti, que as pessoas já não te sabem a Café Mocca Branco com dose extra de chocolate branco mas apenas a café, sem açúcar. Aliás, em alturas como essas até a vida leva um pouco menos de chocolate branco.
Do outro lado da mesa ergo o meu copo e brindo a isso:
- À vida com doses extras de chocolate branco.
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