De repente tudo se questiona. É como se te tirassem o tapete debaixo dos pés - ou como se pisasses um extraordinariamente suave, tão diferente do áspero a que te tinhas habituado que o seu toque te retrai as entranhas e te acelera o coração.
E agora? O que farás agora?
Colocas um pé no tapete áspero de sempre e o outro no novo, no extraordinariamente suave. Os teus pés estão descalços, sem meias, nus. Distribuis bem o peso por ambos os pés, deixas que a planta destes assente sobre os tapetes. Inspiras e expiras enquanto a tua pele se habitua às texturas. Os teus dedos fletem-se e esticam-se repetidamente, tateando o tecido, trazendo no regresso impressões alongadas a transmitir ao órgão lá em cima, no topo de ti.
O que te oferecem são tapetes diferentes, são tapetes bem distintos. Um não tem a suavidade do outro mas os teus pés, habituados que estão a percorre-lo, talvez a dispensem de bom grado. Não saberás onde pisar e o teu passo seguro dará lugar a uns passinhos leves e hesitantes, bem diferentes da forma a que te habituaste a percorrer a vida.
Balouças o corpo, com os braços estendidos em direção ao chão, e os teus dedos soltos tocam-te ao de leve na pele enquanto oscilas o peso entre uma perna e outra, um pé e outro, um tapete e outro. Inspiras e expiras, fechas os olhos demoradamente, sentes o coração a bater-te no peito e as fontes latejam-te, obrigando-te a respirar mais alto, com mais força. Oscilas mais uma vez o peso de um pé para o outro, tateando atentamente a superfície por debaixo deles. Abres finalmente os olhos e sorris, ao mesmo tempo que o peito do pé que elevaras no ar se encosta suavemente à perna esticada, enrolando-se ao joelho de forma contorcida. Sorris, com um só pé assente lá em baixo.
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