terça-feira, 13 de agosto de 2013

13 de agosto de 2013

Ficamos a observá-lo em silêncio. Enterramos bem as mãos nos bolsos  e deixamo-nos ficar a observá-lo com os olhos rasos de lágrimas.
Observamo-lo por entre malas, por entre os filhos que o acompanham. Vemos carrinhos de bagagem que se se seguem uns aos outros, arrastando-se por entre balcões de check-in. Observamos a família que o acompanha apenas até ao controlo de segurança, que o fica a ver do outro lado das portas, que se ampara com mãos nos ombros e lágrimas que escorregam pela face.
Observamo-lo na sua aparente calma. Observamo-lo a abrir os passaportes de quem o acompanha, a depositar mala após mala no tapete. Observamo-lo a colocar naquele tapete os pertences de uma vida. Observamo-lo a despedir-se da mãe e a questionar-se - talvez o não vejamos, mas apenas imaginemos - se o abraço se poderá repetir no próximo ano. E os olhos - os nossos - enchem-se de lágrimas ao vê-lo partir.
Assim, nesta calma aparente, se deixa o país. Vive-se aqui quase toda uma vida. Veem-se nascer os filhos, vemo-los crescer e perder os dentes para de novo os ganhar. Vemo-los entrar e sair de salas de aula, avançar na escolaridade. E, um dia, vemo-los fazer as malas, ajudamo-los a fazer as malas, para se deixar o país.
Nós, que apenas o observamos, não sabemos o que pensa. Não sabemos o que guarda para si, o que esconde dos filhos, dos irmãos, da mãe. Vemo-lo deixar o país em silêncio, com o passo seguro de quem sabe que o deve fazer. 
Para efeitos estatísticos, este é apenas mais um que deixa o país. Mas quando os números são pessoas, o tratamento quantitativo dos dados não deveria chegar.
Nunca saberemos o que sente quem embala a vida. Nunca o poderemos saber até que sejamos nós a fazê-lo também. Um dia gostava de perguntar a um dos que deixa o país - um que não seja dos meus - o que sente ao fazê-lo. Porque ainda que não sabendo o que pensa quem vai, sei já um pouco do que sente quem fica. E os olhos rasos de lágrimas não são só tristeza. São muitas vezes de revolta perante a inércia do país, perante o à vontade com que abrimos as portas e convidamos os nossos a sair.
E se é certo que fora de portas damos sempre o melhor de nós, igual verdade é a de que, podendo, por cá faríamos o mesmo.

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