terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

14 de fevereiro de 2014

Coisas que gostaria de (lhe) dizer:*
Há uma série de coisas que gostaria de lhe dizer. Agora, enquanto a vejo avançar sozinha por entre as portas de embarque, há uma enorme quantidade de coisas que gostaria de lhe dizer.
Gostaria de a proteger do que está para vir. Queria salvaguardá-la, não deixar que se magoasse mais. Queria dizer-lhe para não se empenhar tanto, para não dar tanto de si. Hoje, que a observo à distância, que já pisei os mesmos passos que agora se propõe a pisar, gostaria de a poder alertar para o que aí vem.
Queria dizer-lhe, em primeiro lugar, para recuar no tempo: um, dois, três ou quatro meses até. Queria dizer-lhe que o fizesse para que o seu coração pudesse continuar a bater-lhe tranquilo no peito, para que o ar não lhe fugisse e as suas ideias não estivessem sempre tão longe. Gostaria de a alertar para os terríveis meses de tristeza, de saudade, a que agora irá dar início. Gostaria de a poder alertar para o sentimento de perda, ainda para mais injustificada, que durante muito tempo a dominará.
As certezas que tem são as certezas de que precisa: a certeza de se saber sempre acompanhada, ainda que à distância; a certeza de se saber compreendida, ainda que considerada exagerada; a certeza de poder ter certezas – que mais tarde, garantidamente, verá como tendo sido tão incertas.
Indo tarde, e por isso não conseguindo evitar o embarque, gostaria de lhe pedir que ouvisse, mas que ouvisse uma segunda vez e que fizesse uma leitura objetiva do que ouve em vez de a adequar ao que gostaria de ouvir. É certo que o discurso pouco claro que lhe é dirigido não lhe facilitará a tarefa, mas é também verdade que é sua obrigação – e de mais ninguém – filtrar o que até a si chega. Ocupará espaços que não lhe pertencerão e que não lhe foram, nunca, destinados. Existirá em si um sentimento de pertença, é verdade, mas posso garantir-lhe – agora, à distância – que será de pouca dura. Brevemente se sentirá excluída, quase mesmo eliminada. E passarão meses, vários, até que a perda se acomode num cantinho do coração e este lhe volte a bater calmamente no peito.
Gostaria de lhe dizer que tudo passa. Agora, aqui, um ano depois, gostaria de olhar para trás e de lhe dizer que descanse, que sinta a dor que houver para sentir, que daqui a um ano tudo estará bem e que a vida – a sua, a dos outros – terá dado uma grande, grande volta. Uma volta capaz de mudar vidas. Para (muito) melhor.
*Texto publicado no blog A Vida em Posts, no Brasil, a 17 de fevereiro de 2014 

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