segunda-feira, 5 de outubro de 2015

5 de outubro de 2015

Durante uns dias foi tema de conversa ao almoço.
-  Vamos correr.
- Mas costumas correr?
Eu não corro. Eu não faço exercício. Eu era miúda que fingia ter deixado o equipamento em casa para não ter de fazer a aula de Educação Física - uma e outra vez. Eu tinha dores de barriga todas as semanas e não apenas uma vez por mês. Tive sempre o 3 a manchar-me a pauta. Houve momentos, raros, em que fui assídua no ginásio. Objetivo: ganhar peso, desenvolver a massa muscular. Respirar. Estar comigo. Há dois anos, ainda inscrita no ginásio, saía do trabalho e ía correr para a rua. Andar. Correr. Andar. Fui melhorando. E desisti. Há pouco mais de um mês inscrevi-me no ginásio. Consegui a proeza de ir lá apenas uma vez. 
- E quanto é que vão correr?
Houve opiniões divergentes. Eu coloquei como meta os 3 km. Nem isso achava que ia fazer. 
- Vamos até à ponte.
Eu disse-lhe que não sabia o que estava a dizer, que ainda agora tínhamos começado e que não podia ter noção da minha (in)capacidade. Eu corri até à ponte. Às vezes andei. Mas corri. Fui até lá. Fomos e voltámos. Queixei-me
- Tenho demasiado ar cá dentro
e
- Já nem estou a ver bem 
ou
- Estou a morrer de sede
e
- Tenho dor de burro nas costas 
(e tenho mesmo)
Eu fui e voltei. E não acreditava que seria capaz. Os meus pés pisaram a calçada, pisaram o alcatrão. Um pé, depois o outro, vezes e vezes sem conta, às vezes já sem quase se descolarem do chão. Mas fomos e voltámos. E voltei maior. 
Eu não corro. Mas da primeira vez fiz 5,2 km. E da segunda também, já com menos paragens na ida. Se me soube bem? Superei-me em cada passada. Se doeu? Doeu, doeu bastante até, mas soube tão bem.
Hoje voltámos a ir. O primeiro dos dois dias da semana. Mal começámos a chuva começou a cair. Primeiro de fininho. Depois pingas grossas, afiadas, batidas pelo vento. Os pés encharcados, as calças molhadas coladas ao corpo, o corta vento a deixar passar toda a água. Os olhos a lutarem contra as gotas presas nas pestanas, com as lentes a ficarem baças. Abrigámo-nos do vento de encontro a uma parede. Rendemo-nos, já com os ouvidos cheios de água. Mas ri-me, ri-me muito. Eu, Joana Loureiro, a correr debaixo de um temporal. Nós fizemos a nossa parte.
Troquei de ténis e de tshirt. Vim para casa enregelada, com as calças molhadas. Pelo caminho consultei a aplicação que nos acompanha. Hoje corri o quilómetro mais rápido de sempre. Debaixo de um dilúvio. E soube tão bem.

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