quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

14 de fevereiro de 2013

Tic-tac, tic-tac.
Consegues ouvi-lo a bater-te no peito, pendurado da corrente prateada que te rodeia o pescoço.
Tic-tac, tic-tac.  
Sempre a mesma cadência, sempre os mesmos intervalos, sempre o mesmo volume.  
Tic-tac, tic-tac.
Fechas os olhos perante uma imagem que te salta da memória e inspiras com força, inspiras com necessidade de oxigenar o sangue que te corre depressa nas veias. Inspiras cheio de ansiedade. E à medida que o ar te entra pelo corpo a tua respiração acelera-se, o órgão que te bate no peito agita-se e o
tic-tac, tic-tac
que ouves, pendurado na corrente prateada que te rodeia o pescoço, parece mais rápido, cada vez mais rápido. Inspiras e expiras tentanto controlá-lo. 
O ar, que antes descia aos pulmões e te oxigenava o sangue que te corre cada vez mais depressa nas veias, acumula-se-te na garganta, empurra-se mais a cada inspiração e enquanto te esforças por o deixares passar sentes pequenas gotas a escorregarem, lentamente, pela tua testa, rodeando-te os olhos, enevoando-te a vista. Puxas as mãos trémulas até à cara, usas as suas costas para tentares afastar as gotas que te escorregaram da testa e as outras, que te saltam dos olhos agora que ao abrires e fechares a boca uma e outra vez nada passa. Procuras apoiar-te no vidro atrás de ti tateando-o com uma mão, trémula e fria, ao mesmo tempo que a outra afaga o pescoço procurando assim desbloquear tudo o que ali se reuniu. A mão que te percorre o pescoço, afagando-o, sente o frio da corrente prateada e deixa-se escorregar até que o 
tic-tac, tic-tac 
esteja em contacto com a sua palma.
Abres e fechas a boca com lágrimas que te caem dos olhos e todo o rosto banhado por gotas que não são apenas de choro, com gotas geladas que te escorregam pelo rosto. Abres e fechas a boca e nada entra, nada sai. E então percebes que o 
tic-tac, tic-tac
que te bate no peito já não tem a mesma cadência, já não tem os mesmos intervalos, já não tem o mesmo volume.
O
tic-tac, tic-tac
bate-te no peito bate cada vez mais devagar e às mãos trémulas juntam-se umas pernas sem forças, uns braços caídos, um rosto molhado. Embrulhas-te sobre o 
tic-tac, tic-tac
que quase já não te bate no peito e sentes o frio do chão em contacto com a tua pele, com os olhos muito abertos a olhar a parede lá mais em baixo, o pedaço de parede que se une ao chão, enquanto uma mão te afaga o pescoço e a outra se deixa ficar sobre o 
tic-tac, tic-tac
procurando fazê-lo voltar ao seu ritmo, ao seu 
tic-tac, tic-tac
regular, ao seu
tic-tac, tic-tac
que te coloca o sangue a percorrer as veias e permite que, ao abrires e fechares a boca, este seja oxigenado.

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