Este é o momento em que ainda te podem pedir que fiques. Na verdade, este é o momento em que, para ficares, tu precisarias que to pedissem.
O coração volta, a pouco e pouco, a bater-te mais depressa no peito mas, de cada vez que o seu batimento acelera, os teus olhos têm de parar. Têm de permanecer abertos. Sabes que quando deixares que a pálpebra superior oscile, quando te permitires pestanejar, as lágrimas vão escorregar-te devagarinho pelo rosto e o teu lábio inferior, escapando-se à habitual mordida, ficará ali a oscilar, tremendo ligeiramente. Tentarás explicar(-te) o porquê dos olhos molhados mas, à medida que o fizeres, um peso maior crescer-te-á no peito.
Cerras os punhos com força e, de olhos fechados, revês as imagens que deverias deixar ir. A dor no peito a lembrar-te que o sangue, para correr mais depressa arrastando tudo à sua passagem, obriga o coração a um esforço suplementar. E que isso dói. E, no entanto, o coração a bater-te mais depressa no peito diz-te que estás quase pronta - e tu queres dizê-lo também. Queres dizê-lo para que te digam que fiques. Queres dizê-lo para que te peçam que atires a vida ao ar para a apanhares lá mais à frente, lá mais longe, lá onde tiver que ser.
O que não (te) consegues explicar é o porquê de quereres ficar, é o porquê de cerrares os punhos em vez de os abrires bem abertos e os agitares no ar - assim, exatamente assim como fizeram contigo.
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