Ela não te diz, nunca te dirá. Mas a verdade é que à noite, quando abre a cama e se enfia lá dentro puxando bem para cima o edredão e certificando-se que o relógio pousado lá mais ao fundo não perturbará o seu sono, coloca-se de lado, bem na beirinha da cama, ajeita a almofada e fecha os olhos. E depois, devagarinho, o seu braço estica-se para o espaço vazio a seu lado e a sua mão vai subindo e descendo, afagando o lençol, e os seus pés, na continuidade das pernas enviesadas na cama, vão-se esfregando um no outro como se nos teus. Os olhos permanecem fechados e ela vai-se fechando também, encerrando mais fundo o que traz em si. Sabe que é assim que deve ser, que é o esperado.
Agarra a almofada com força, vira-se e revira-se e assim te expulsa, te arranca do espaço vazio a seu lado. Quer que seja para sempre mas já o esperou demasiadas vezes - e todos os dias, ao poisar a cabeça na almofada, vê frustradas as suas expectativas.
Mas isto, o que traz em si, ela nunca te dirá. Não o diz a si própria. Sabe que é assim que deve ser, que é o silêncio que esperas dela.
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