Vais aprender muitas lições. Lamento dizer-to, mas vais aprender ainda mais lições do que aquelas que já aprendeste até agora. Vais aprender lições que te vão custar horas de sono, sorrisos, quilos e também pessoas. Sim, pessoas. E eu sei que ao ouvires isto os teus olhos se encherão de lágrimas e inclinarás a cabeça à direita - como se assim me conseguisses perceber melhor - mas sim, perderás pessoas.
Na vida, e isso tu já aprendeste, não há nada que tu possas julgar eterno. Não há amores que durem para sempre (pelos menos não na sua forma inicial), não há dores que durem para sempre, não há bens materiais que durem para sempre e, talvez tenhas de aprender também, poderão não existir amizades que durem para sempre. Vai doer-te? Sim, vai. Vai doer-te muito. Mas ao fim de algum tempo, quando inspirares, vais perceber que o peito já não te dói tanto e recordar-te-ás de que o que vem também vai - e vice-versa.
Para que os dedos segurem a lapiseira amarela e percorram juntos as linhas finas do caderno preto tu vives muitas vezes acima da realidade. Pisas um chão diferente deste e os teus passos têm um peso que nem sempre é igual - demasiado leves, demasiado pesados. Sentes mais do que outros coisas que não seriam de se sentir e valorizas o que para os outros são insignificâncias. Deixas que te toquem, que te levem às lágrimas, porque para ti tem de ser sempre assim, com todas as emoções à flor da pele. E tens direito a isso. Tens direito a isso e ninguém te poderá dizer o contrário. Mas tens também a obrigação - que os outros também teriam, ainda que não o assumam - de te protegeres. E sim, só a ti poderás cobrar essa proteção. Porque os outros, minha querida, estarão a proteger-se a si mesmos.
Eu sei que o teu coraçãozinho te bate no peito a uma velocidade que um primeiro olhar não permite perceber. Sei que tens a lágrima fácil, o sorriso doce muitas vezes difícil e uns olhos que dizem mais do que tu gostarias de deixar sair. Mas também sabemos que esse teu maldito coração, associado ao chão que só tu pisas - lá mais em cima, sempre lá mais em cima - ainda te trará muitas dores. Uma após a outra temos vindo a tentar descodificá-las, a tentar perceber se és tu que afastas as pessoas ou se é simplesmente a vida a reservar-te o melhor. Sei que às vezes, mesmo que tu não mo digas, te martirizas culpabilizando-te por uma ou outra atitude que poderá ter provocado o caos em que muitas vezes te encontras. Mas, minha querida, só fica quem quer ficar e, mais importante ainda, só deves deixar que fique quem realmente merece poder ficar. E não, não coloques a mão no fogo por ninguém. Reforço: por ninguém. Por mais anos que passem, por mais anos que tenham passado, lembra-te de que nada é eterno.
Portanto recorda-te: muitas lições ainda estão para vir. Lições que te farão chorar e outras também que te farão rir. E o importante será sempre que as consigas desmontar, acomodar, apreender. E que no final das contas continues a saber sorrir. A ser feliz.
domingo, 30 de junho de 2013
quarta-feira, 19 de junho de 2013
18 de maio de 2005
Agora ela já quase que não dorme em casa.
A pouco e pouco o roupeiro vai ficando vazio, as caixas de sapatos vão saindo, e até os livros, as sebentas, e os cd's, são já apenas uma pequena amostra do que sempre foram. Agora o quarto só é arrumado de dois em dias, e a roupa vai-se amontoando aos pés na cama, num amontoado de calças de ganga, t-shirts, casacos e soutiens sem fim; à porta do quarto ficam à noite as meias e as cuecas desse dia, que no dia seguinte, depois de enfiar o casaco de lã a caminho da casa de banho, enfio no bolso para as colocar no cesto de roupa suja.
À noite deixo-me ficar no computador, teclando com força. E não há ninguém a reclamar do barulho, não há um queixume ensonado. A televisão agora raramente é ligada. E quando me enfio na cama já não há uma luz instável, umas vozes cruzadas. De manhã, quando o telemóvel toca e eu me deixo ficar na cama, se há alguém que me acorda, já não é de dentro, mas alguém que abre a porta e deixa entrar a luz do corredor. A casa de banho agora não é um espaço muito movimentado. Já ninguém me apressa, debatendo-se pela banheira. Quando regresso da escola, a cama continua por fazer e ninguém me colocou a roupa em cima da cama, ninguém fez um montinho com os livros espalhados no chão. Na mesa da cozinha não encontro a tostadeira, porque já não há ninguém que coma tostas.
Quando acordo, de manhã, espreguiço-me e faço aquele hummmm, esfrego os olhos, sorrio. E agora salto da cama e abro os estores. E lá vem o sol. Olho o espelho. E fujo para a banheira. Na verdade, gosto de ter duas camas, gosto de me espojar numa, e dormir noutra, gosto de separar sestas por camas, separar roupa de livros...gosto de ter todo este espaço. E vou adorar retirar uma das camas, ficar com um espaço grande; vou adorar pegar no rolo no Verão e pintar as 3 paredes com uma cor qualquer sem que me levantem objecções. Mas agora, agora que a pouco e pouco vou vendo o quarto a ficar vazio, na verdade também me sinto um pouco vazia. E não há mais aquele entusiasmo do «ela vai-se embora». Não. Sinto uma tristeza aqui dentro, dou por mim a olhar para ela e apetecer-me abraçá-la. E a ficar colada à cadeira. E sentir picos nos olhos. Na verdade acho que evito até falar. Deixo os dias passarem. Caladinha. Fingindo que nada de passa. Na verdade, não me sinto muito feliz. Por ela sim, claro, mas não por mim. É bom vê-la construir a sua vidinha, é bom vê-la sorridente, e entusiasmada com alguma coisa, mas...sinto um vazio tão grande cá dentro...é muito bom vê-la "crescer", construir uma vida a dois, vencer os medos que também eu herdei, mas é tão...fico feliz por ela, a sério que fico, mas ao mesmo tempo dou por mim a negar essa ida, e também a pensar que eu é que queria sair daqui. Acho que é mais difícil ficar que ir, e, construir uma vida a dois...
A minha mãe não diz, mas eu sei. Agora quando nos cruzamos na cozinha, olhamos o chão e ela cora. Não falamos. Não dizemos nada. Mas sei que faz tudo para a agradar. Já dei por ela a arrumar-me o quarto. Na verdade, tudo isto vai ficar demasiado calmo, demasiado silencioso.
Nunca lhe disse, mas gosto muito dela.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
17 de junho de 2013
Os teus olhos não se fecham. Os teus olhos não se fecham e as tuas mãos decidem dar-lhes imagens com que se possam entreter. Os dedos, rápidos, percorrem o ecrã arrastando-as - direita, esquerda; direita, esquerda - trazendo até ti pedaços do que devias esquecer.
O tempo está a passar - tic, tac, tic, tac - mas os teus olhos permanecem abertos. Os teus olhos permanecem abertos e os pedaços do que devias esquecer continuam aqui. Talvez seja por eles que os teus olhos se mantêm abertos à medida que o tic, tac, tic, tac te acelera a respiração, te faz tremer as mãos - e te faz rogar pragas ao que te mantém acordada.
Tu devias esquecer. Tu JÁ devias ter esquecido. E, no entanto, as horas passam mas os teus olhos permanecem abertos. Sentes a ansiedade a apoderar-se de ti à medida que as palavras te ficam presas na garganta. Queres calá-las - dizê-las para quê? - e esforças-te para o fazeres. Talvez por isso os olhos demorem tanto a fecharem-se. Talvez a pressão que sentes a escorregar-te por entre as pestanas sejam as palavras que trazes em ti, as palavras que as imagens que as tuas mãos trazem até ti te fazem querer dizer. Talvez os olhos não se fechem porque o teu peito bate depressa de mais, bate com força a mais - tum tum, tum tum.
Fechas os olhos à força e resistes às pálpebras que novamente se querem afastar. Poisas as mãos unidas sobre a barriga. Viras-te de lado e rodeias a almofada com um só braço. Encostas a barriga ao colchão e envolves a almofada com ambos os braços. Inspiras e expiras com força - e com ruído. Sentas-te e atiras a almofada para longe.
Pensas no que precisas. Pensas no que desejas para ti. Dizes a ti própria que não podes ter o que queres. Inspiras e expiras com as pestanas a debaterem-se com lágrimas mais pesadas. Inspiras e expiras procurando acalmar o peito, acalmar a respiração, acalmar a ansiedade, acalmar o que te mantém os olhos abertos, acalmar o que trazes em ti.
O tempo está a passar - o tic tac, as folhas do calendário, as estações do ano - mas os teus olhos continuam por fechar. Continuas a calar as palavras antes que estas te saiam pela garganta ou pelas pontas dos dedos.
Fechas os olhos. Fechas os olhos com força. Fechas os olhos convicta de que os deves manter assim. Com força. Com força até que deixem de resistir. Com força até que se mantenham fechados por si próprios. Com força. Até que as imagens lhes apareçam a partir do interior para te aconchegar o peito - e eles queiram permanecer fechados para as conservarem em si.
O tempo está a passar - tic, tac, tic, tac - mas os teus olhos permanecem abertos. Os teus olhos permanecem abertos e os pedaços do que devias esquecer continuam aqui. Talvez seja por eles que os teus olhos se mantêm abertos à medida que o tic, tac, tic, tac te acelera a respiração, te faz tremer as mãos - e te faz rogar pragas ao que te mantém acordada.
Tu devias esquecer. Tu JÁ devias ter esquecido. E, no entanto, as horas passam mas os teus olhos permanecem abertos. Sentes a ansiedade a apoderar-se de ti à medida que as palavras te ficam presas na garganta. Queres calá-las - dizê-las para quê? - e esforças-te para o fazeres. Talvez por isso os olhos demorem tanto a fecharem-se. Talvez a pressão que sentes a escorregar-te por entre as pestanas sejam as palavras que trazes em ti, as palavras que as imagens que as tuas mãos trazem até ti te fazem querer dizer. Talvez os olhos não se fechem porque o teu peito bate depressa de mais, bate com força a mais - tum tum, tum tum.
Fechas os olhos à força e resistes às pálpebras que novamente se querem afastar. Poisas as mãos unidas sobre a barriga. Viras-te de lado e rodeias a almofada com um só braço. Encostas a barriga ao colchão e envolves a almofada com ambos os braços. Inspiras e expiras com força - e com ruído. Sentas-te e atiras a almofada para longe.
Pensas no que precisas. Pensas no que desejas para ti. Dizes a ti própria que não podes ter o que queres. Inspiras e expiras com as pestanas a debaterem-se com lágrimas mais pesadas. Inspiras e expiras procurando acalmar o peito, acalmar a respiração, acalmar a ansiedade, acalmar o que te mantém os olhos abertos, acalmar o que trazes em ti.
O tempo está a passar - o tic tac, as folhas do calendário, as estações do ano - mas os teus olhos continuam por fechar. Continuas a calar as palavras antes que estas te saiam pela garganta ou pelas pontas dos dedos.
Fechas os olhos. Fechas os olhos com força. Fechas os olhos convicta de que os deves manter assim. Com força. Com força até que deixem de resistir. Com força até que se mantenham fechados por si próprios. Com força. Até que as imagens lhes apareçam a partir do interior para te aconchegar o peito - e eles queiram permanecer fechados para as conservarem em si.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
14 de junho de 2013
Não é o estatuto que te dão. O problema é o estatuto que tu atribuis. Sempre foi.
Acreditas desde o princípio. Acreditas por inteiro. Queres acreditar. Fazes por isso.
Olhas num só sentido, vês uma única direção. E avanças. Avanças com tudo - com o peito a bombear-te o sangue depressa pelas veias e todo o corpo num frenesim.
Avanças com tudo. Dás tudo e mais um bocadinho. Dedicas-te. Estás presente. Falas e escutas. Planeias - ainda que em silêncio. Não esqueces. Não falhas. Ou falhas por excesso de zelo. E, a pouco e pouco, sentes-te vazia. O que sai não é reposto. Não há equilíbrio entre o que dás e o que recebes.
O estatuto que atribuis é sempre tão mais valioso. E o problema não é o que te dão a ti: o problema é o que tu dás aos outros.
Acreditas desde o princípio. Acreditas por inteiro. Queres acreditar. Fazes por isso.
Olhas num só sentido, vês uma única direção. E avanças. Avanças com tudo - com o peito a bombear-te o sangue depressa pelas veias e todo o corpo num frenesim.
Avanças com tudo. Dás tudo e mais um bocadinho. Dedicas-te. Estás presente. Falas e escutas. Planeias - ainda que em silêncio. Não esqueces. Não falhas. Ou falhas por excesso de zelo. E, a pouco e pouco, sentes-te vazia. O que sai não é reposto. Não há equilíbrio entre o que dás e o que recebes.
O estatuto que atribuis é sempre tão mais valioso. E o problema não é o que te dão a ti: o problema é o que tu dás aos outros.
terça-feira, 11 de junho de 2013
11 de junho de 2013
Ondas. Como ondas dentro de ti. Ondas que podem demorar a vir. Ondas que podem demorar a ir. Mas ondas - que vão e que vêm a um ritmo próprio.
Devagarinho, em cada parte de ti, sentes que se está a afastar. A começar do centro. Vai-se afastando devagarinho, escorrendo a partir do centro para as extremidades, percorrendo-te os membros, afastando-se de cada vez que inspiras. De cada vez que expiras - como se assim a empurrasses para longe.
E de repente, quando menos esperas, surpreende-te um novo embate.
Viraste-lhe as costas. Não te protegeste o suficiente. E as ondas vão. Mas as ondas também voltam.
Falta-te o ar enquanto a sentes em ti. À volta. Por dentro. Às voltas. O corpo a contorcer-se. Os pés a procurarem o chão para te impulsionarem para cima, em direção à superfície. As mãos a tatearem em redor procurando algo a que se agarrarem - algo a que te agarrares.
Mas falta-te o chão. Falta-te o chão e falta-te o ar. Faltam-te as forças. E, devagarinho, os braços que antes se agitavam em redor movem-se com mais calma. Parecem ambientar-se. Ou parecem derrotados. Talvez acabes por inspirar com tudo em teu redor. Talvez inspires o que te rodeia e o ar te continue a faltar.
As ondas vão. As ondas voltam. Sustem a respiração por mais um bocadinho. Liberta o ar devagarinho - e a medo. Vai libertando o ar. Uma bolha. Outra bolha.
O que vem também vai. Aguarda pelo momento certo. Aguarda pelo momento certo e quando chegar não o percas. Calca com força o chão a teus pés, impulsiona o corpo, emerge. E não deixes que a próxima onda te volte a surpreender.
Devagarinho, em cada parte de ti, sentes que se está a afastar. A começar do centro. Vai-se afastando devagarinho, escorrendo a partir do centro para as extremidades, percorrendo-te os membros, afastando-se de cada vez que inspiras. De cada vez que expiras - como se assim a empurrasses para longe.
E de repente, quando menos esperas, surpreende-te um novo embate.
Viraste-lhe as costas. Não te protegeste o suficiente. E as ondas vão. Mas as ondas também voltam.
Falta-te o ar enquanto a sentes em ti. À volta. Por dentro. Às voltas. O corpo a contorcer-se. Os pés a procurarem o chão para te impulsionarem para cima, em direção à superfície. As mãos a tatearem em redor procurando algo a que se agarrarem - algo a que te agarrares.
Mas falta-te o chão. Falta-te o chão e falta-te o ar. Faltam-te as forças. E, devagarinho, os braços que antes se agitavam em redor movem-se com mais calma. Parecem ambientar-se. Ou parecem derrotados. Talvez acabes por inspirar com tudo em teu redor. Talvez inspires o que te rodeia e o ar te continue a faltar.
As ondas vão. As ondas voltam. Sustem a respiração por mais um bocadinho. Liberta o ar devagarinho - e a medo. Vai libertando o ar. Uma bolha. Outra bolha.
O que vem também vai. Aguarda pelo momento certo. Aguarda pelo momento certo e quando chegar não o percas. Calca com força o chão a teus pés, impulsiona o corpo, emerge. E não deixes que a próxima onda te volte a surpreender.
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