Os teus olhos não se fecham. Os teus olhos não se fecham e as tuas mãos decidem dar-lhes imagens com que se possam entreter. Os dedos, rápidos, percorrem o ecrã arrastando-as - direita, esquerda; direita, esquerda - trazendo até ti pedaços do que devias esquecer.
O tempo está a passar - tic, tac, tic, tac - mas os teus olhos permanecem abertos. Os teus olhos permanecem abertos e os pedaços do que devias esquecer continuam aqui. Talvez seja por eles que os teus olhos se mantêm abertos à medida que o tic, tac, tic, tac te acelera a respiração, te faz tremer as mãos - e te faz rogar pragas ao que te mantém acordada.
Tu devias esquecer. Tu JÁ devias ter esquecido. E, no entanto, as horas passam mas os teus olhos permanecem abertos. Sentes a ansiedade a apoderar-se de ti à medida que as palavras te ficam presas na garganta. Queres calá-las - dizê-las para quê? - e esforças-te para o fazeres. Talvez por isso os olhos demorem tanto a fecharem-se. Talvez a pressão que sentes a escorregar-te por entre as pestanas sejam as palavras que trazes em ti, as palavras que as imagens que as tuas mãos trazem até ti te fazem querer dizer. Talvez os olhos não se fechem porque o teu peito bate depressa de mais, bate com força a mais - tum tum, tum tum.
Fechas os olhos à força e resistes às pálpebras que novamente se querem afastar. Poisas as mãos unidas sobre a barriga. Viras-te de lado e rodeias a almofada com um só braço. Encostas a barriga ao colchão e envolves a almofada com ambos os braços. Inspiras e expiras com força - e com ruído. Sentas-te e atiras a almofada para longe.
Pensas no que precisas. Pensas no que desejas para ti. Dizes a ti própria que não podes ter o que queres. Inspiras e expiras com as pestanas a debaterem-se com lágrimas mais pesadas. Inspiras e expiras procurando acalmar o peito, acalmar a respiração, acalmar a ansiedade, acalmar o que te mantém os olhos abertos, acalmar o que trazes em ti.
O tempo está a passar - o tic tac, as folhas do calendário, as estações do ano - mas os teus olhos continuam por fechar. Continuas a calar as palavras antes que estas te saiam pela garganta ou pelas pontas dos dedos.
Fechas os olhos. Fechas os olhos com força. Fechas os olhos convicta de que os deves manter assim. Com força. Com força até que deixem de resistir. Com força até que se mantenham fechados por si próprios. Com força. Até que as imagens lhes apareçam a partir do interior para te aconchegar o peito - e eles queiram permanecer fechados para as conservarem em si.
O tempo está a passar - tic, tac, tic, tac - mas os teus olhos permanecem abertos. Os teus olhos permanecem abertos e os pedaços do que devias esquecer continuam aqui. Talvez seja por eles que os teus olhos se mantêm abertos à medida que o tic, tac, tic, tac te acelera a respiração, te faz tremer as mãos - e te faz rogar pragas ao que te mantém acordada.
Tu devias esquecer. Tu JÁ devias ter esquecido. E, no entanto, as horas passam mas os teus olhos permanecem abertos. Sentes a ansiedade a apoderar-se de ti à medida que as palavras te ficam presas na garganta. Queres calá-las - dizê-las para quê? - e esforças-te para o fazeres. Talvez por isso os olhos demorem tanto a fecharem-se. Talvez a pressão que sentes a escorregar-te por entre as pestanas sejam as palavras que trazes em ti, as palavras que as imagens que as tuas mãos trazem até ti te fazem querer dizer. Talvez os olhos não se fechem porque o teu peito bate depressa de mais, bate com força a mais - tum tum, tum tum.
Fechas os olhos à força e resistes às pálpebras que novamente se querem afastar. Poisas as mãos unidas sobre a barriga. Viras-te de lado e rodeias a almofada com um só braço. Encostas a barriga ao colchão e envolves a almofada com ambos os braços. Inspiras e expiras com força - e com ruído. Sentas-te e atiras a almofada para longe.
Pensas no que precisas. Pensas no que desejas para ti. Dizes a ti própria que não podes ter o que queres. Inspiras e expiras com as pestanas a debaterem-se com lágrimas mais pesadas. Inspiras e expiras procurando acalmar o peito, acalmar a respiração, acalmar a ansiedade, acalmar o que te mantém os olhos abertos, acalmar o que trazes em ti.
O tempo está a passar - o tic tac, as folhas do calendário, as estações do ano - mas os teus olhos continuam por fechar. Continuas a calar as palavras antes que estas te saiam pela garganta ou pelas pontas dos dedos.
Fechas os olhos. Fechas os olhos com força. Fechas os olhos convicta de que os deves manter assim. Com força. Com força até que deixem de resistir. Com força até que se mantenham fechados por si próprios. Com força. Até que as imagens lhes apareçam a partir do interior para te aconchegar o peito - e eles queiram permanecer fechados para as conservarem em si.
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