terça-feira, 18 de março de 2014

15 de março de 2014

Os silêncios soam-me a distância. Cada minuto que decorre sem uma troca de palavras - qualquer uma - soa a distância que se inicia, que se alastra a cada minuto. E eu lido mal com distâncias.
Os silêncios deixam-me zangada. Deixam-me insegura. Deixam-me magoada. Os silêncios deixam-me em (quase) lágrimas que eu não sou capaz de segurar, tão pouco de deixar cair. Os silêncios deixam-me num misto de emoções à flor da pele que se misturam, se entranham e me baralham.
A música a tocar no rádio não interrompe o silêncio. Caminha, ali no topo dele, como que a cavalgá-lo, a dirigi-lo. Coexiste para me lembrar que o silêncio permanece, que o contraste entre o que ouço e o resto é grande. Existe para me lembrar que para além dela - independentemente do volume em que a ouça - há todo um silêncio a rodear-me, a isolar-me como que numa bolha de sabão - mas das que descem (não das que sobem) em direção a um sítio escuro.
As luzes que vão passando por mim depressa - se pudesse passariam ainda mais depressa - como que a puxarem consigo todos os momentos cheios de luz, de sorrisos brilhantes. E eu a afastar-me mais, cada vez mais, para um sítio escuro, de silêncios. A minha boca, abrindo-se e fechando-se, e as minhas mãos a desejarem um cigarro que pudessem segurar entre o indicador e o médio, aproximando-o da boca, permitindo-me inalar o fumo. A minha boca abrindo-se, procurando que as palavras me saíssem - mas um nó formado a meio caminho a impedir a saída.
Os minutos vão passando. Total silêncio para além da música. E a distância, essa, a crescer a olhos vistos. A mão a afastar-se. As pernas a retesarem-se. Os ombros contraídos e os olhos muito abertos, quase esbugalhados, a procurarem ver lá mais à frente.
Abro e fecho a boca repetidamente. Quase pego na lapiseira amarela para que as palavras me escorreguem pelas pontas dos dedos até às linhas do moleskine preto que sempre me acompanha. Mas depois, ao abrir a boca, as palavras saem-me finalmente. Assim meio para dentro, de forma pouco audível. Que depois tenho de repetir. Saem-me aos atropelos, aos empurrões. Empurram medos escondidos cá dentro. Afastam os planos para o futuro. Saem-me como pedras atiradas. Medos que se pronunciam em voz alta. E a distância ainda um fosso entre nós. Os silêncios forçados. Os olhos molhados. O abdominal a contrair-se repetidamente, prendendo o choro que a tensão em mim sempre provoca.
O meu problema são as palavras. Soltas. Em demasia. A falta delas, os silêncios, são distância de mim mesma.

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