segunda-feira, 5 de maio de 2014

28 de abril de 2014

Até ao próximo ciclo*
Primeiro o embate de se estar sozinha. Sozinha. So-zi-nha. O sofá torna-se o melhor amigo, as séries vão passando na televisão, episódio após episódio e passam-se dias – vários – sem que se saia de casa. A comida desce a custo e os quilos vão descendo depressa na balança – não um a um, antes aos pares, antes vários de uma só vez. Até que, passado algum tempo, passamos a sair – muito.
Ganha-se gosto aos horários próprios, às horas que não pertencem a mais ninguém. Olha-se mais para dentro, com uma maior profundidade. Vemo-nos melhor do que antes, melhor do que outros. Conquista-se um espaço próprio e a forma de vivermos bem com todo o tempo, todo o espaço, tudo o que é agora apenas nosso.
E depois cansamo-nos – pelo menos parcialmente. Gostamos de tudo quanto fazemos mas há momentos que gostaríamos de poder partilhar. Um bocadinho hoje, um bocadinho do amanhã que gostaríamos de viver com alguém ao lado, alguém com quem partilhar a felicidade que temos em nós, alguém com quem a fazer crescer.
A pessoa aparece. Primeiro as borboletas na barriga, os risos tontos, a descoberta constante do outro, de um “nós”, de se estar apaixonada. Mas às vezes o medo a bater-nos à porta, a calar os sorrisos, a travar os beijos, a criar barreiras. Tememos a dependência, tememos um possível embate de se voltar a ficar sozinha. Colocamos travões para evitar embates. Provocamos embates por tanto medo de repetir erros do passado.
Ciclos. São ciclos que provocam medo. Mas refletindo com calma – se se encontrar calma – a mudança é isso também: medo, conquista, estabilização. Até ao próximo ciclo. Há que aproveitar.
*Texto publicado no blog A Vida em Posts, no Brasil, a 28 de abril de 2014

Sem comentários:

Enviar um comentário