domingo, 13 de setembro de 2015

13 de setembro de 2015

Ele começou o dia a responder à pirraça da avó
- estou na esplanada em frente à praia de Sesimbra - disse ela
- e eu logo à tarde vou ao cinema com a tia Joana
(toma, toma)
Fomos buscá-lo. Vinha entusiasmado, falador como só ele sabe ser. Íamos ver a Ovelha Choné, um (quase) clássico.
Não havia ninguém na bilheteira e ainda tínhamos algum tempo.
- são três bilhetes para a Ovelha Choné, umas pipocas...
- doces - disse ele
- e uma água natural.
Pouso o cartão da Zon no balcão
- tem uma identificação? - pergunta o funcionário 
e enquanto vasculho a carteira à procura do meu cartão do cidadão ouço dizer
- mas é para esta sessão?
- sim... - respondemos a medo
- está esgotada.
Engulo em seco. Olho para ele, mais abaixo, vejo-o começar a contorcer o rosto, a apertar os lábios, a fazer beicinho
- só tenho dois lugares
Olhamo-nos em silêncio e ele, impecável, diz
- vão vocês, fico por aqui a dar uma volta
uma volta de uma hora e meia, penso.
- pode ser então - digo
- mas os dois lugares são separados - acrescenta o senhor.
Olho para ele e já não lhe vejo a cara. Enrolou o casaco, tapou a cara com ele e chora desalmadamente. Ele chora. Eu quero atirar-me para o chão a fazer o mesmo.
Levamo-lo para um canto, dou-lhe colinho, limpo-lhe as lágrimas enquanto penso que devia ter antecipado isto, enquanto me culpo por cada uma das suas lágrimas. Levo-o ao colo durante um bocado, enquanto procuro acalmá-lo.
- vamos durante a semana, a seguir ao colégio - digo eu
- não. não. não.
E eu quero fazer beicinho.
A mãe envia o horário de outro cinema.
- vamos lá?
- sim - diz, ainda sem sorrir.
E fomos. Desta vez chegámos bastante cedo. Desta vez a sala tinha ainda muitos lugares. 
Ainda fomos comprar os ténis que a mãe pediu. Assisti à melhor estratégia de sempre para experimentar sapatos novos: correr com eles. Calçou um ténis, pôs-se em posição de partida e atravessou o corredor da loja a correr. No regresso levantou o polegar. Prevenida, ainda tentei o número acima, na expectativa de que durassem mais. Utilizou a mesma estratégia. Voltou de polegar para baixo.
Quando o deixámos em casa ia feliz. Depois de eu sair abriu a porta e disse
- obrigado, tia.
Obrigada eu. Sempre.

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