quarta-feira, 2 de setembro de 2015

2 setembro de 2015

Há dez anos atrás, mais ou menos a esta hora - seria mais cedo, mais tarde? - disse-te as últimas palavras. Disse-te 
- gosto muito de ti.
E ainda bem que o fiz. Nos dias menos felizes em que me lembro de tudo isto tenho o consolo de te ter dito o importante.
Disse-te palavras que há muito não te dizia. Estive naquela idade em que evitava os abraços, as palavras meigas. E depois tu emagreceste (muito) e fugiste-nos.
Daqui a uma semana fará dez anos que entrei para a faculdade, para aquele curso que, quiseste crer, me verias terminar. Afinal, no dia em que saiu o resultado da candidatura, os teus olhos já não brilharam de orgulho em mim.
Em dez anos tanta coisa aconteceu. Estamos tão crescidas, em algumas coisas tão mudadas. Estamos umas mulherzinhas.
Faz amanhã dez anos que almoçámos - ou tentámos - coelho à caçador e fomos no peugeut vermelho até lá, sem saber que enquanto isso nos fugias. Faz amanhã dez anos que percorremos abraçadas, abraçados, o corredor do SO e que à pergunta de um enfermeiro
- então, piorou?
respondi 
- morreu.
Hoje faz dez anos sobre o último abraço, as últimas palavras. Amanhã faz dez anos que nos deixaste. Daqui a dois dias faz dez anos que te deixámos no único sítio em que, sabíamos, querias ficar para sempre.
Para sempre. 
Amanhã vou fingir que não passaram dez anos. Amanhã vou abrir a porta da sala e receber os mimos dos meus alunos. Porque amanhã, como hoje e sempre, devo viver da forma como tu gostarias de me ver viver. A sorrir.
Gosto muito de ti. Para sempre.

1 comentário:

  1. Não fugiu, foi(ram) à frente para abrir caminho e arranjar um bom lugar :-) Bjs

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