Puxo-te para baixo para que não me leves contigo. Tens a minha mão segura na tua e levas-me contigo em cada uma das tuas subidas. É por isso que te puxo. Quero os meus pés bem assentes na terra e caminhar seguro em cada um dos meus passos.
Já andei lá por cima. Já vi as vistas, já sofri as vertigens, já caí lá em baixo. A queda foi tão grande que me pareceu demorada: segundos infinitos em que revi cada momento, em que ouvi de novo cada uma das palavras, em que revi cada um dos sinais de aviso que havia ignorado. Vezes sem conta. Revi cada momento à medida que um nó maior se formava em mim. E de repente o silêncio, o escuro em redor. Tudo o que há é uma dor maior em mim. Estou em choque. Tenho um nó na garganta, um nó no estômago - e suponho que também nos olhos, nos ouvidos. Nada entra, nada sai. Quero levantar-me. Quero comandar o meu corpo, ordenar-lhe que se recomponha, que se levante inteiro e caminhe para longe. Mas estou esmagado por este peso no peito e o que tenho não chega para o mover. Eu sei que se me deixar ficar ele acabará por passar.
Seguras a minha mão na tua e caminhamos juntos lado a lado. Mas há, entre elas, entre as nossas mãos, nas nossas mãos, uma tensão maior. O meu braço está a ser puxado, todo eu estou a ser puxado para cima, numa diagonal ascendente. E puxo-te. Puxo-te porque trago ainda um peso maior no peito, porque de cada vez que penso em subir todo o meu corpo se contrái ao pensar na descida.
Puxo-te para baixo para que não me leves contigo, para que me deixes caminhar seguro em cada um dos meus passos - para que não haja nunca uma dor maior em ti e um peso que te esmague o peito.
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