sábado, 9 de março de 2013

7 de março de 2013


(banda sonora para a leitura - há que encontrar o ritmo)

Uma espécie de jogo das cadeiras. Cada vez que trocarmos de lugar trocamos de personagem, falamos de nós próprios na terceira pessoa do singular. Colocamos todas as questões.
Salto para o outro lugar, cruzo as pernas à chinês, levo o vidro à boca e solto uma gargalhada isolada quando o meu olhar se cruza com o teu do outro lado da mesa. Questiono. Atiro perguntas que só posso fazer quando não sou parte da questão. Vejo os teus olhos abrirem-se mais de espanto a cada uma mas encolho os ombros, de sorriso posto, perante a inevitabilidade da resposta - e a perspetiva de não haver lugar a ressentimentos agora que eu não sou eu.
Troca. Sou eu outra vez. Respondo por mim quando tu já és afinal elemento externo.
Troca.
Troca.
Troca.
Troca.
Pausas momentâneas para substituir vidros, para acender cigarros. Não há perguntas sem resposta nem tempo para as ponderar. Eliminam-se os filtros agora que voltámos a ser outras pessoas que não estas.
Troca.
Troca.
Troca.
Troca até que as perguntas se esgotem. Troca até que tudo tenha sido esmiuçado.
Troca.
Troca.
Troca até que estejamos prontos para retomar o nosso lugar normal. Troca até que, depois de tudo dito, possamos prosseguir do ponto em que estamos.
Troca.
Troca até à exaustão.
Troca.
Troca até que caiamos nas cadeiras absolutamente estafados e com uma gargalhada conjunta e demorada capaz de arrumar cada resposta no devido lugar.

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