quarta-feira, 6 de março de 2013

5 de março de 2013

 
(banda sonora para a leitura)

Sentada na cadeira do gabinete branco enfrentas a medo o fantasma maior em ti. Inspiras e expiras a custo, forçando o ar a passar pelo túnel cada vez mais estreito que te liga ao exterior.
Fitas os olhos no topo da bata branca enquanto o ouves a desmanchar todos os castelos assombrados que ergueras em tão pouco tempo. Ouves as explicações e mentalmente vais traçando cruzes por cima de cada uma das fases que ele queimou. Revês o passado e procuras ligar as palavras a fases diferentes. Procuras localizar no tempo cada uma das etapas em que ele poderia ter parado, em que ele poderia ter evitado todas as sombras que trazemos connosco, em que ele poderia ter evitado tudo o que nos trouxe, em que ele poderia conquistar tempo aqui. Eliminas mentalmente, uma a uma, cada etapa que fez por ignorar, e por cada etapa uma imagem mais desfeita, mais pequena, mais minguada de si.
Sentamo-nos nesta cadeira vezes sem conta para que connosco seja diferente. Erguemos castelos assombrados que nos lembram as histórias que trazemos em nós e esperamos, esperamos com força e com uma vontade tamanha, que alguém nos ajude a desmanchá-los.

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