quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

12 de dezembro de 2012

Há conversas que se evitam a elas próprias. Não somos nós que as evitamos: elas evitam-se realmente.
Saímos da cama para um novo dia e pensamos "Não passa de hoje". Para que soe mais convincente ao interior, para que nos convençamos a nós mesmos, dizemos em voz alta, muitas vezes em frente ao espelho, apontando o dedo que agitamos ligeiramente enquanto falamos, marcando pausadamente as sílabas pronunciadas: 
- Não-pa-ssa-de-ho-je.
Mas passa de hoje. Passa de hoje como passou de ontem, como passou de anteontem e dos dias anteriores. Passa de hoje como passará de amanhã e de depois de amanhã. 
Não somos nós que as evitamos: elas que se evitam a elas próprias. Deixam-se ser atropeladas por outras, assumem sempre o último lugar na fila como se o fizessem por simpatia e não por medo. Evitam-se a elas próprias até que deixem de ser necessárias - ou até que uma outra conversa as traga à baila e as obrigue a existir. Evitamo-las até que deixem de ser necessárias ou evitamo-las até que tudo mude e a sua existência fosse simplesmente descabida.
E à noite, quando fechamos o dia, dizemos para dentro "Não somos nós que as evitamos: elas evitam-se realmente". Soando a falso, olhamos o espelho e dizemos em voz alta, com seriedade (e uma convicção exagerada):
- Não somos nós que as evitamos: elas evitam-se a elas próprias.

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