Entristece-me a crise. Entristece-me esta crise que entristece as pessoas. A crise que são várias crises. A crise que começou no dinheiro e agora já é do trabalho, da família: das pessoas.
Entristecem-me os trocos contados, os olhos sem brilho, as barrigas dilatadas pela fome. Entristecem-me os risos roubados e o andar arrastado. Entristecem-me os cartões espalhados pela Avenida, os cobertores amontoados e o olhar de quem está só ali, só à espera do fim. Entristecem-me as mãos estendidas de quem nunca nada pediu na vida e os princípios que se alteram pelo desespero.
Entristecem-me as malas feitas a que a crise obrigou e o olhar de quem vai - e de quem fica. Criam-se os filhos, veem-se nascer os netos e vive-se no vazio por eles deixado. Não se pertence a lado algum e todos os sítios são vazios de mais. Arrastam-se os dias num vazio cada vez maior, cada vez mais pesado e procura-se acreditar que o que se faz é o melhor, é pelo melhor. Reencontram-se as pessoas em abraços longos e apertados e procura-se esticar os braços ao impossível para que lá ao longe se sinta que não há espaço vazio. Partilham-se sorrisos à distância. Vivem-se vitórias à distância. Colapsam-se relações pela distância.
Entristece-me esta crise que entristece a vida das pessoas. Entristece-me esta crise que entristece as pessoas.
Sem comentários:
Enviar um comentário