terça-feira, 22 de outubro de 2013

17 de outubro de 2013

Família é mesmo assim*

Família é assim mesmo. Cada um com a sua. E ai de quem, de fora, fizer comentários. Se é para elogiar vamos a isso, se é para criticar escusa de vir. Família é assim mesmo e cada um com a sua.
Sentados à mesa montamos um arraial. Os braços apertados uns contra os outros, as cadeiras a empernarem com os bancos – e vice-versa – e as vozes – primeiro poucas, primeiro baixas – a subir, subir, até formarem um indistinto aglomerado de timbres. Por vezes, quando a cabeça está mais cansada, o aglomerado soa a um barulho constante e ininterrupto capaz de provocar um esgotamento. E, de repente, queremos abandonar o lugar à mesa ou levantar mais a voz – mais e mais – até que nos consigamos fazer ouvir para tão simplesmente pedirmos um pouco de silêncio.
A ralhar ou a rir. A comunicar. Cada família à sua maneira. Antes a ralhar que a calar, dia após dia. A ralhar vezes demais. A rir. A gritar. A espernear. Um bocadinho de cada. De extremos. A comunicar muito. A comunicar tudo. A não comunicar nada. A baixar a guarda e a perder o filtro.
Cada família com os seus hábitos – e estes, afinal mutantes, a serem alterados devagarinho e muitas vezes a contragosto de alguns. Primeiro tudo, depois um pouco menos – que família é um grupo mas cabe lá muita gente.
Família é assim mesmo. Nós não a escolhemos mas optamos dia após dia. Ficar. Dar. Receber. Ou não.
Há umas que dão demais, outras que dão de menos. Há os que nunca se satisfazem, os que não querem dar e há os outros: os que dão por inteiro, ainda que pouco ou nada recebendo.
Há famílias em que a dor de uns é a dor de todos, outras há em que a dor de um não dói a mais ninguém. Há os que vivem a felicidade alheia e os outros, que convivem mal com ela.
Família é assim mesmo e cada um com a sua. Umas vezes mais. Outras vezes menos. Nem sempre com muita vontade – ou à vontade. Mas cada um com a sua.
Não há melhores, não há piores (há, mas são raros os casos). Não há quem possa julgar – não de fora. Porque família é mesmo assim – ou devo dizer assins?
* Texto publicado no blog A Vida em Posts, a 21 de outubro de 2013

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