sexta-feira, 11 de outubro de 2013

9 de setembro de 2013

Para que os ses não te apanhem*

Se.
Se a vida não tivesse dado estas voltas. Ou se a vida as tivesse dado antes. Se tu tivesses percebido antes ou se tu simplesmente nunca te apercebesses. Se tivesses agido na altura. Se agisses agora. Se não agires nunca. Se não tivesses agido nunca. Se te tivesses declarado ou se não tivesses deixado sair o que trazias no peito.Se o medo te tivesse bloqueado ou se não te tivesses deixado paralisar pelo medo. Se não tivesses colocado a mão no fogo por ele. Se tivesses ariscado mais. Se. Se. Se.
Na correria do dia a dia não há tempo para ses. Na correria não há tempo para mas. Não há tempo para ter tempo. Ponto. Vais depressa, mais depressa, sem parar. 
Pausa. Pausas com olhos no passado. Pausas em que os pés se querem mexer em sentido inverso, em que queres andar para trás no tempo e optar por outros caminhos. Pausas em que querias que a tua vida fosse um livro (que é!) daqueles em que podes escolher diferentes finais - e em que, quando um não te agrada, podes simplesmente retomar a história a partir do ponto anterior sem que as personagens se tenham movimentado no tempo, no espaço.
Pausa. Pausas para leres as palavras de antes, para olhares os rostos para sempre guardados em fotografias. Pausas para olhares para dentro, para olhares para ti. 
Pausas em que te arrependes das opções que fizeste - e das outras, que não fizeste. Pausas em que, invariavelmente, choras o passado, lamentas o presente e temes o futuro. E te afundas em hipotéticas possibilidades.
Depois aceleras. Mais depressa. Vai depressa. Vai depressa que o tempo voa. Vai depressa para que os ses não te apanhem. Vai depressa para o que os teus olhos não os foquem. Para que os teus ouvidos não os ouçam. Vai depressa mas lembra-te de que se não fossem estes seriam outros. Ses haverá sempre. Não te deixes é vencer pelo arrependimento.
* Texto publicado no blog A Vida em Posts, a 11 de outubro de 2013

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