Para que os ses não te apanhem*
Se.
Se a vida não tivesse dado estas
voltas. Ou se a vida as tivesse dado antes. Se tu tivesses percebido antes ou
se tu simplesmente nunca te apercebesses. Se tivesses agido na altura. Se
agisses agora. Se não agires nunca. Se não tivesses agido nunca. Se te tivesses
declarado ou se não tivesses deixado sair o que trazias no peito.Se o medo te
tivesse bloqueado ou se não te tivesses deixado paralisar pelo medo. Se não
tivesses colocado a mão no fogo por ele. Se tivesses ariscado mais. Se. Se. Se.
Na correria do dia a dia não há
tempo para ses. Na correria não há tempo para mas. Não há tempo para ter tempo.
Ponto. Vais depressa, mais depressa, sem parar.
Pausa. Pausas com olhos no passado.
Pausas em que os pés se querem mexer em sentido inverso, em que queres andar
para trás no tempo e optar por outros caminhos. Pausas em que querias que a tua
vida fosse um livro (que é!) daqueles em que podes escolher diferentes finais -
e em que, quando um não te agrada, podes simplesmente retomar a história a
partir do ponto anterior sem que as personagens se tenham movimentado no tempo,
no espaço.
Pausa. Pausas para leres as palavras
de antes, para olhares os rostos para sempre guardados em fotografias. Pausas
para olhares para dentro, para olhares para ti.
Pausas em que te arrependes das
opções que fizeste - e das outras, que não fizeste. Pausas em que,
invariavelmente, choras o passado, lamentas o presente e temes o futuro. E te
afundas em hipotéticas possibilidades.
Depois aceleras. Mais depressa. Vai
depressa. Vai depressa que o tempo voa. Vai depressa para que os ses não te
apanhem. Vai depressa para o que os teus olhos não os foquem. Para que os teus
ouvidos não os ouçam. Vai depressa mas lembra-te de que se não fossem estes
seriam outros. Ses haverá sempre. Não te deixes é vencer pelo arrependimento.
* Texto publicado no blog A Vida em Posts, a 11 de outubro de 2013
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