sábado, 5 de outubro de 2013

4 de outubro de 2013

Há algo na forma como ela caminha a seu lado que mostra o quão diferente é a sua perspetiva sobre o que têm.
Vai à frente, abrindo caminho, abrandando o passo apenas para se dirigir a ele mas não - nunca - para o ouvir. Os seus braços, esticados ao longo do corpo, acompanham-na sem parecerem precisar de companhia. Não importa se ele apressa o passo, se os braços dele se movimentam mais para a frente, mais para o lado, na tentativa de se aproximarem dos dela. Ela não parece interessada na proximidade.
Quando se aproximam da estrada, dos semáforos, ele coloca-se à esquerda, barrando-lhe a visão. E então ela, já com um pé na estrada, acaba por recuar. Ele procura protegê-la. Ela, tão autónoma, acaba por ceder. Ele levanta a mão em direção ao seu ombro, procurando abraçá-la com um braço só. E ao observá-la daqui, um pouco ao longe, quase consigo vê-la a fincar os pés no chão com mais força, pedindo-lhes ajuda para manter o corpo firmemente longe do dele.
Ele sorri, os olhos dele, sorriem, e a sua mão procura colocar no lugar os caracóis que o vento do final do dia insistentemente agita no ar. Ela sorri ao de leve e talvez o seu rosto acabe por se acomodar de encontro à mão quente dele. Talvez o corpo dela esteja a tentar aproximar-se do dele afinal de contas. Mas talvez o objeto com rodas que ele vem arrastando rua fora a esteja a impedir.
E de repente percebo. Percebo porque é que ela insiste em caminhar mais à frente, porque é que ela - e os braços dela - não procuram a proximidade, antes fugindo. Há um perímetro traçado no chão em seu redor. Não importa para onde vá: ali ninguém entra, dali ninguém devia sair. Ele saiu. Ela fechou o seu espaço e habituou-se a ele. É constante. Vazio às vezes, mas constante.

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